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Blog do Gesner Oliveira

Por que os automóveis são caros no Brasil? Está na hora de comprar?

Gesner Oliveira

06/01/2017 17h07

Esta semana a Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos, divulgou a impressionante retração de 20,2% nas vendas de veículos em 2016. As quedas foram mais fortes nas vendas dos ônibus (-32,9%) e caminhões (-29,9%). Automóveis de passeio e comerciais leves caíram 19,8% e as vendas de motos, 21,6%.

A tragédia é maior quando se compara o volume de vendas de 2016 com o de 2012. Naquela época, o governo buscou incentivar o setor através da desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), liberação de R$ 18 bilhões em depósito compulsório pelo Banco Central e outras medidas de incentivo ao crédito. Em 2012 foram vendidos 3,8 milhões de veículos. Em 2016, o número foi de apenas 2,05 milhões de unidades, uma queda de 46,1%.

A bolha estourou. Depois dos anos de ouro da chamada política dos três Cs (Crédito, Consumo e Commodities), este mercado perdeu fôlego com a maior crise da história brasileira. Com a alta dos juros, do desemprego e queda da renda, o mercado automotivo foi fortemente atingido, uma vez que depende fortemente de renda e crédito.

Mas há outros fatores além da economia. O primeiro é urbano. As pessoas estão dando preferência maior ao transporte público. E isso não é exclusividade do Brasil, é uma tendência mundial. Como diria o prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, "uma cidade desenvolvida não é aquela onde até os pobres usam carros, mas onde até os ricos usam o transporte público".

O segundo fator é tecnológico. Aplicativos como Uber, Cabify e outros aplicativos de aluguéis e caronas de carro, têm otimizado a utilização dos automóveis. Por serem alternativas baratas, esses aplicativos tendem a criar alternativas ao automóvel.

Mesmo com uma grande queda no mercado, não houve uma redução exagerada no preço dos automóveis. O preço médio dos veículos teve queda de apenas 0,27% em termos reais, segundo um estudo feito pela consultoria Jato Dynamics. Diferente do setor imobiliário. O preço dos imóveis apresentou queda real de 5,48% em 2016, segundo o Índice FipeZap.

Em contraste com o mercado imobiliário, as montadoras ajustam mais rapidamente a oferta à menor demanda das pessoas. Dessa forma, o preço tem oscilações menores. Diferentemente dos imóveis, que não há como parar a construção uma vez iniciada. Portanto, as construtoras são forçadas a venderem a preços mais generosos.

Igualmente relevante, o mercado automotivo no Brasil ainda é concentrado com elevado grau de proteção externa. Considerado um oligopólio, isto é, poucas empresas fazendo parte deste mercado. De acordo com os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), o Brasil possui mais de treze montadoras. Porém, as quatro maiores empresas detêm mais de 80% do mercado. Esta característica tem reflexos nos elevados preços. Segundo a consultoria Jato Dynamics, a média do preço dos automóveis no Brasil ficou em R$ 66 mil em 2016.

Claro, não podemos esquecer dos elevados impostos. No Brasil, o imposto médio sobre o carro é de 32%, a média mundial é 16% e nos Estados Unidos varia de 6% a 9%, de acordo com a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Este número pode chegar a 38%, dependendo do modelo do carro.

No caso dos automóveis importados, este aumento é ainda maior. O IPI para automóveis nacionais é 2% a 8%. Para automóveis importados, porém, há 30 pontos percentuais adicionais, ou seja, o IPI varia entre 32% a 38% do preço do automóvel. Esta alta alíquota de imposto faz o consumidor brasileiro sentir no bolso. Um exemplo: o valor atual de um modelo Hyundai Elantra no mercado nacional é de R$84.990. Nos Estados Unidos, com o câmbio atual, sai por R$ 54.880, um valor 55% maior.

Para quem ainda assim se sente encorajado em adquirir um novo automóvel em 2017, ter um colchão de liquidez é uma poderosa arma para obter grandes descontos. Além de fugir dos juros de financiamento de automóveis que estiveram entre 1,0% e 4,4% segundo o Banco Central em dezembro de 2016, pode ser um ótimo poder de barganha na hora de negociar. Em um mercado que teve queda de 20% em 2016, ter dinheiro à vista coloca o comprador como um cliente disputado entre as concessionárias. Como diria Paulinho da Viola, "Dinheiro na mão é vendaval. Dinheiro na mão é solução". Mas para isso, poupar é preciso.

Gesner Oliveira
Professor da EAESP-FGV e Sócio da GO Associados

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira