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Blog do Gesner Oliveira

Rumo à inflação civilizada

Gesner Oliveira

10/02/2017 17h49

Nos últimos meses a inflação vem surpreendendo para baixo. E não por motivos isolados. A queda da inflação está disseminada por toda a economia, e não está concentrada em um item específico. Isso decorre de vários fatores.

No caso dos alimentos, a melhora da condição climática normalizou a oferta de bens agrícolas e levou a inflação para níveis extremamente baixos. Em janeiro a inflação dos alimentos no domicílio subiu apenas 0,17%. Itens como o feijão (-13,58%), batata-inglesa (-8,48%), tomate (-5,83%) seguem em queda. E a perspectiva de uma boa safra agrícola para este ano deve fazer com que os preços dos alimentos sigam bem-comportados em 2017.

Outro fator positivo é a taxa de câmbio que voltou a se acomodar em um nível próximo a R$ 3,10, depois de um susto inicial com a eleição de Trump nos EUA. Um real mais forte reduz a pressão de preços de produtos importados, tanto bens finais para os consumidores, como insumos para a indústria nacional.

Os aparelhos eletrônicos por exemplo, apresentaram deflação pelo quinto mês consecutivo. Agora em janeiro, apresentaram queda de 0,34%, e nesses últimos cinco meses a queda acumulada foi de 3,17%.  Além disso, a recessão econômica tem causado um efeito considerável sobre os preços. O chamado grupo serviços, por exemplo, que tem o salário como um peso importante em sua composição, também segue em descompressão dado o elevado e crescente nível de desemprego. Em janeiro a alta foi de 0,36%, fazendo o índice no acumulado em 2 meses recuar de 6,47% para 6,15%.

Isso não significa que não tenha havido pressão de preços em janeiro. Algumas capitais tiveram reajuste em sua tarifa de ônibus municipal.

A inflação no acumulado em 12 meses até janeiro fechou em 5,35%, convergindo para o centro da meta de 4,5%. E deve fechar 2017 próxima a esta taxa, fato que não acontece desde 2009.

Inflação menor significa maior poder de compra para as famílias, que não têm seu salário corroído pela inflação, aumentando o poder de consumo.

A menor inflação também alonga o horizonte de previsão das empresas, pois torna o ambiente mais previsível. Por fim, e não o menos importante, abre espaço para o Banco Central manter acelerado o ciclo de queda dos juros. Neste ponto reside grande parte da esperança da economia sair do fundo do poço.

Ao que tudo indica, com a aprovação da PEC dos gastos e o avanço da reforma da previdência, é possível que o Brasil esteja entrando em uma nova era. O Plano Real restabeleceu a estabilidade de preços depois de décadas de superinflação. O Governo Temer poderá, se for bem sucedido nas reformas, levar a economia a um patamar civilizado de inflação.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira