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Blog do Gesner Oliveira

Brasil converge lentamente para a normalidade

Gesner Oliveira

13/02/2017 19h18

Embora as incertezas no campo político tenham ganhado força na última semana, surpresas positivas principalmente com relação à inflação indicam que o país parece já ter atingido o fundo do poço. Os recentes ruídos políticos, como o que envolveu o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), Moreira Franco, e crises como a de segurança pública, não parecem ser capazes de mudar o humor do mercado. O governo, contudo, não tem muita margem de erro para conduzir com sucesso a política econômica.

Na última semana, o ponto mais delicado para o Governo Temer talvez tenha sido a indicação de Moreira Franco para ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Cabe ao governo separar a discussão política da indicação do andamento das negociações sobre parcerias e concessões na infraestrutura. Destravar investimentos privados nesta área constitui fator chave para uma recuperação consistente da economia.

Outro ponto de preocupação do Executivo é a grave crise financeira dos Estados. Após o socorro negociado para o Rio, o caos verificado no Espírito Santo, com a greve da polícia militar por aumentos de salários, é mais uma indicação das dificuldades de caixa que atingem várias unidades da federação. Os ajustes das contas públicas, tanto dos Estados como da União, estão na direção certa, mas ainda demoram.

O contexto macroeconômico, contudo, dá mostras de que há uma luz no fim do túnel.

Os números favoráveis da inflação são hoje a principal aposta do governo para a melhora da economia neste ano. A expectativa cada vez mais concreta de queda mais forte na taxa de juros básica (Selic) tem sido capaz de manter um otimismo moderado em relação à retomada da economia. A Selic pode fechar o ano abaixo de 10%.

O resultado do IPCA de janeiro, índice oficial de inflação, foi de apenas 0,38%, a menor taxa desde o início da medição, em 1979. Em igual mês de 2016, a inflação medida pelo IBGE havia ficado em 1,27%. Em 12 meses, IPCA alcançou 5,35%, também abaixo das previsões.

O resultado fortalece a percepção de que a desaceleração da inflação está disseminada em toda a economia, ou seja, não é fruto de um item específico. A queda do preço dos alimentos, um dos que têm maior peso na inflação, tem ajudado bastante.

A elevada ociosidade da economia, a boa safra agrícola e a perspectiva de que a taxa de câmbio se mantenha em nível confortável justificam a expectativa de um índice próximo da meta de 4,5% neste ano. De acordo com o relatório Focus, divulgado hoje pelo Banco Central e que faz uma média das principais projeções do mercado, as expectativas do mercado para o IPCA caíram pela sexta vez consecutiva e agora estão em 4,47% para o final do ano. Pela primeira vez abaixo da meta em anos.

Além disso, há agora uma boa chance de que as reformas da Previdência e trabalhista, com o apoio da base aliada do governo no Congresso, possam ser aprovadas ainda no primeiro semestre do ano, permitindo um ajuste mais rápido da economia.

Outra boa notícia para o governo foi a decisão na sexta-feira da agência Standard & Poor's de elevar o rating da Petrobras. A referida agência subiu a nota em escala global e a de crédito individual da estatal. Embora as agências de risco tenham discutível capacidade de previsão, constituem referência básica para captação de empréstimo. A S&P justificou a elevação em função da estratégia da Petrobras de reduzir o endividamento e fortalecer a liquidez. A melhora do rating constitui certamente um alento para a nova direção da Petrobras.

Apesar das enormes dificuldades e crises como a da segurança pública, e naturalmente os desafios do ajuste econômico, o país converge lentamente para uma situação de normalidade. É fundamental acompanhar com atenção como, em meio às vicissitudes do curto prazo, começam a surgir mudanças de caráter estrutural que afetarão a economia do país nas próximas décadas.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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