O pesadelo da recessão parece estar terminando
O setor de serviços fechou 2016 em queda de 5%, segundo ano seguido de retração e o pior resultado desde 2012. O comércio varejista, no conceito restrito, apresentou queda de 6,2% em 2016, maior queda da história do indicador. Vale a pena entender o que dizem esses números.
Dados do setor de serviços são analisados pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que tem como objetivo produzir indicadores que permitam o acompanhamento da evolução conjuntural, isto é, de curto prazo, do setor que responde por cerca de 2/3 do PIB brasileiro. A partir dos dados de receita bruta de cerca de 9.300 empresas situadas nas 27 unidades da federação, desconta-se a inflação do período e estima-se um índice de volume de vendas. Ou seja, pesquisa-se quanto as empresas receberam, desconta-se a variação do nível de preços do período e chega-se à quantidade comercializada no mês.
Para se obter uma análise mais precisa dos dados, o IBGE divide o setor de serviços em cinco grupos diferentes, que podem ser desagregados dependendo da unidade da federação: (i) serviços prestados à família; (ii) serviços de informação e comunicação; (iii) serviços profissionais, administrativos e complementares; (iv) transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio; e (v) outros serviços.
Os dados do comércio varejista, por sua vez, são analisados pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC). A variável investigada pela pesquisa é a receita bruta mensal de 6.150 empresas proveniente da revenda de mercadorias que, assim como na PMS, quando descontada a inflação possibilita a estimação do volume de vendas.
O resultado da PMC pode ser dado de duas formas: sob o conceito restrito que, no geral, refere-se a produtos não duráveis e que se relaciona mais com o mercado de trabalho; e sob o conceito ampliado, com bens de caráter durável e que muitas vezes são financiados pelo consumidor, de modo que respondem mais ao crédito, taxa de juros e renda.
Sob o conceito restrito, o comércio varejista é dividido em (i) combustíveis e lubrificantes; (ii) hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo; (iii) tecidos, vestuário e calçados; (iv) móveis e eletrodomésticos; (v) artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria; (vi) livros, jornais, revistas e papelaria; (vii) equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação; e (viii) outros artigos de uso pessoal e doméstico. No conceito ampliado, a todos esses somam-se mais dois: (ix) veículos e motos, partes e peças; e (x) material de construção.
Os resultados do comércio varejista e do setor de serviços constituem importantes indicadores de como se comportou a atividade econômica no período analisado. É com base neles que economistas elaboram projeções para a atividade nos meses seguintes.
A PMS foi divulgada hoje e o setor de serviços apresentou ligeira alta de 0,6% em dezembro ante o mês de novembro. O que impulsionou o resultado foi o setor de transportes, com peso de cerca de 30% e alta de 0,4%. Este grupo se beneficiou do desempenho positivo do setor industrial, que subiu 2,3% em dezembro. Apesar da boa notícia, o indicador apresentou retração de 2,7% no último trimestre do ano ante o anterior e serviços fechou 2016 em queda de 5%, segundo ano seguido de retração e o pior resultado desde 2012.
Divulgada ontem, a PMC registrou queda de 2% em dezembro em relação a novembro de 2016, no conceito restrito. O componente de maior peso, o setor de hiper e supermercados, caiu 3%. Em 2016 o varejo restrito apresentou queda de 6,2%, maior queda da história do indicador. Os resultados refletem a deterioração do mercado de trabalho.
As vendas de veículos e materiais de construção cresceram no mês de dezembro em 1,8% e 2,1%, respectivamente. Mas não foram capazes de compensar a queda no conceito restrito e o varejo ampliado apresentou queda de 8,7% no ano. A expectativa é que a redução da taxa de juros tenha maior capacidade de afetar positivamente o consumo de bens duráveis, mais sensível a condições do mercado de crédito.
Os dados negativos das pesquisas já eram esperados pelo mercado e a projeção é de que a atividade econômica em dezembro sofra queda de 0,4% contra o mês anterior. Isso reforça a percepção de um quarto trimestre fraco em 2016, com queda estimada de 0,5%.
Mas isso é passado. A expectativa para 2017, é mais otimista. Apesar do consumo das famílias ainda continuar fraco, a melhora esperada na atividade industrial deve puxar atividades mais ligadas ao setor, como serviços de transportes. A desaceleração da inflação abre espaço para o Banco Central manter o ciclo de queda dos juros acelerado, estimulando a atividade econômica. Desenha-se lentamente, assim, um cenário de recuperação modesta. O pesadelo da recessão parece estar terminando.
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