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Blog do Gesner Oliveira

O que pode dar errado na economia?

Gesner Oliveira

22/02/2017 11h59

O título parece pessimista, mas é útil fazer cenários em que tudo pode dar errado para planejar suas finanças. Após nove meses do Governo Temer, o cenário aponta para um período de recuperação. Os sinais estão presentes na queda consistente dos índices de inflação, puxada em grande medida pela perspectiva de uma safra agrícola recorde; na melhora dos termos de troca de produtos de exportação brasileiros, com destaque para o minério de ferro; e na queda da taxa de juros da economia.

Tais fatores são suficientes para haver um grau moderado de otimismo em relação ao processo de retomada da atividade já no primeiro trimestre deste ano. Estima-se que o PIB deva crescer 0,3% na margem, isto é, em relação ao último trimestre de 2016. O cenário otimista se reflete nos índices de confiança do setor empresarial, que têm melhorado nos últimos meses. O Indicador de Confiança do Empresário Industrial, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), aumentou 3 pontos entre janeiro e fevereiro e chegou ao patamar de 53,1 pontos. Índices acima de 50 pontos indicam otimismo do mercado.

Entretanto, a manutenção desse sentimento e o vigor da recuperação dependem de três fatores principais. Primeiro, o avanço das reformas. Em boa medida, não é exagero dizer que parte significativa da melhoria recente das expectativas econômicas está ancorada na confiança de que as reformas avançarão em ritmo adequado. O principal parâmetro de avaliação do Governo Temer continua sendo a capacidade de aprovar a agenda econômica no Congresso, especialmente a reforma da Previdência.

Segundo, uma sintonia fina da política monetária e cambial que evite apreciação excessiva do real, abortando a recuperação da indústria. O dólar mais barato é positivo para o controle da inflação e reflete boas expectativas de investidores externos com relação ao Brasil, além de ser também uma boa notícia para aqueles que irão fazer compras no exterior, mas tem efeitos negativos na indústria.

É verdade que este segmento precisa inovar e se tornar mais competitivo independentemente da política cambial. Mas isso demanda tempo e a concretização das reformas modernizantes mencionadas anteriormente, especialmente a trabalhista e a tributária. Não dá para participar da maratona da globalização carregando um peso no calcanhar (e que peso!).

Por fim, a construção de um projeto político de médio prazo que legitime o atual programa de ajuste da economia, afastando o risco de retrocesso populista. Recente pesquisa de popularidade divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostrou que a avaliação positiva do presidente Michel Temer caiu de 14,6%, em outubro do ano passado, para 10,3%. A mesma pesquisa revelou que o ex-presidente Lula continua liderando o voto espontâneo para as eleições presidenciais de 2018.

Embora seja cedo para qualquer cenário político eleitoral mais sério para as próximas eleições, a falta de uma alternativa eleitoral consistente com a continuidade da política econômica atual pode afetar as expectativas. Afinal, muitos investidores poderão perguntar: é verdade que o Brasil está entrando nos trilhos, mas não há risco de descarrilamento a partir de 2019? Não há bola de cristal que contenha essa resposta.

Portanto, surgem sinais de que o pior já passou, mas muita coisa ainda pode dar errado na economia. 2017 pode representar um ponto de inflexão e uma virada positiva, mas isso depende da capacidade do governo em avançar com as reformas, de garantir uma sintonia fina entre a política monetária e cambial e de recuperar a credibilidade e confiança da população.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira