IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Histórico

Categorias

Blog do Gesner Oliveira

Economia, política e seu bolso

Gesner Oliveira

27/02/2017 17h10

Um controle mais rígido dos gastos, o cenário de inflação baixa e a queda dos juros básicos da economia são indicadores que sugerem uma melhora da economia. Mas a política pode atrapalhar. A reforma da Previdência, peça essencial para o ajuste fiscal, promete uma aprovação mais difícil do que se chegou a imaginar há poucas semanas.

O primeiro mês da emenda constitucional de limite de gastos teve um resultado positivo, apresentando corte de despesas de 13,2% em termos reais. O governo central, que engloba o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central, obteve, no primeiro mês de vigência da emenda constitucional que fixou o limite de incremento anual do gasto público, um superávit de R$ 19 bilhões.

O número é significativo, especialmente se comparado ao déficit de R$ 60 bilhões, verificado em dezembro, e ao superávit de R$ 14,8 bilhões de janeiro de 2016. Além disso, reforça a importância da reforma da Previdência para o ajuste fiscal. Apesar do superávit, os números mostram que o déficit do INSS continua elevado e chegou a R$ 13,37 bilhões no mês. Foi compensado por um bom desempenho do Tesouro e BC, com superávit de R$ 32,34 bilhões.

Um controle mais rígido dos gastos se soma a um cenário de inflação baixa e de queda dos juros básicos da economia. O corte de 0,75 ponto percentual na Selic, para 12,25% ao ano, na segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), deve ajudar na recuperação prevista para este ano, de 0,5%. Com a desaceleração da inflação, a expectativa é de que a taxa básica chegue a 9,5% no final deste ano e a 9% no encerramento de 2018.

Se a economia melhorou, a política pode atrapalhar. Há um intenso trabalho do Planalto em tentar a aprovação da reforma da Previdência ainda no primeiro semestre, com uma votação inicial na Câmara do Deputados em meados de abril. Como indicado nas contas do governo central de janeiro, trata-se de peça chave para sanar o rombo nas contas públicas. Mas tudo indica que a aprovação será mais difícil do que se imaginava há poucas semanas.

De acordo com pesquisa preliminar liderada pelo cientista político Leonardo Barreto, com uma amostra de 200 deputados federais no início de fevereiro, não há consenso na Câmara dos Deputados capaz de garantir a aprovação das principais medidas da reforma apresentadas pelo governo. O levantamento mostra que nenhum dos principais pilares da reforma previdenciária, como tempo de contribuição e idade mínima, passarão fácil pelo Congresso.

Além disso, apenas 38% dos deputados entrevistados disseram concordar com a tese da Fazenda de que "apenas com a reforma da previdência será possível retomar o desenvolvimento econômico". Consideradas em conjunto, a média de respostas que conferem prioridade alta às propostas do governo foi de apenas 20,5%.

Embora ainda seja cedo para ter uma visão mais precisa da posição dos deputados na votação da reforma, está claro que o relativo otimismo do governo e do mercado quanto à velocidade de aprovação da reforma pelo Congresso ainda não tem uma base sólida.

Tal fato, aliado ao licenciamento do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, com reconhecida capacidade de articulação e liderança, colocará novos desafios ao governo e poderá provocar volatilidade nos mercados nas próximas semanas.

Como isso afeta seu bolso? Prepare-se para certa instabilidade nas aplicações na Bolsa Valores e no preço do dólar.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira