IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Histórico

Categorias

Blog do Gesner Oliveira

Bye bye, recessão...e a recuperação?

Gesner Oliveira

07/03/2017 11h55

Os dados do PIB divulgados hoje ilustram a profundidade da maior recessão da história do país em 2015/16. No ano passado o produto brasileiro caiu 3,6%, após encolher 3,8% em 2015, representando uma queda do PIB superior a 7% e do PIB por habitante maior do que 10%. Mas isso é passado. O que interessa é saber se 2017 será diferente.

Segundo os dados do IBGE, em 2016 houve recuo de 6,6% na agropecuária, de 3,8% na indústria e de 2,7% nos serviços. No quarto trimestre do ano o PIB teve baixa de 0,9% em relação ao trimestre anterior, sendo o oitavo resultado negativo consecutivo nessa base de comparação.

Chama atenção a queda dos investimentos (formação bruta de capital físico), de -10,2%, variável fundamental para a capacidade produtiva da economia. Foi o terceiro ano seguido de declínio do investimento, totalizando uma contração de quase 26% desde 2014!

A despesa das famílias caiu 4,2% em relação a 2015, refletindo a deterioração do emprego, renda e dos indicadores de juros e crédito ao longo de todo o ano passado. A despesa do governo, por sua vez, caiu 0,6%, ante queda de 1,1% em 2015.

Vale destacar ainda os resultados no setor externo. As exportações de bens e serviços cresceram 1,9%, enquanto que as importações caíram 10,3%.

Embora importantes, os dados para 2016 não constituem um bom indicador do que vai acontecer em 2017. A economia neste ano deve apresentar uma recuperação modesta, de cerca de 0,6%. Uma recuperação mais consistente deveria ser liderada pelo investimento e pela competitividade, mas o que se nota é que tais condições ainda não parecem sólidas o suficiente.

Essencial para girar a roda da economia, a taxa de investimentos ainda engatinha. Na média do ano passado, os investimentos representaram 16,4% do PIB, valor muito baixo dadas as necessidades estruturais do país. Países emergentes como Colômbia e México, por exemplo, possuem taxas acima de 20%. A China investe mais de 40% do seu PIB.

Em termos de competitividade o Brasil também deixa muito a desejar. Segundo o ranking 2016/17 de competitividade do Fórum Econômico Mundial, o país está na 81ª posição, atrás de países como Irã (76ª), Botswana (54ª) e Azerbaijão (37ª). O resultado é um setor externo dependente de um câmbio competitivo e refém dos preços de commodities como minério de ferro e soja.

As condições estão dadas para uma recuperação modesta em 2017. Há muita capacidade ociosa, a inflação caiu, os juros estão caindo e a safra agrícola será recorde.  Mas o desafio é estabelecer as bases para uma recuperação consistente que permita resgatar a capacidade de crescimento do país. Tal tarefa passa por gerar um ambiente propício para as exportações e sobretudo o investimento.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira