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Blog do Gesner Oliveira

Nova política de preços de gás da Petrobrás é boa notícia para o consumidor

Gesner Oliveira

09/06/2017 04h00

A Petrobras aprovou uma nova política de preços para a venda de gás de cozinha em botijões. A partir de agora, os preços no Brasil acompanharão os mercados internacionais. A nova fórmula deve levar a um aumento médio nas refinarias de 6,7% em junho. Pode não parecer, mas apesar do aumento no curto prazo, essa é uma boa notícia para o consumidor.

Entre 2007 e 2014, não houve reajustes nos preços do botijão e a empresa subsidiava eventuais aumentos de custos. Com a nova regra, se os preços internacionais caírem, o gás no Brasil também acompanha esse movimento. Se isso acontecer, naturalmente o consumidor ficará feliz. Mas se os preços lá fora sobem, aqui dentro também há uma alta.

A Venezuela é um bom exemplo de como subsídios fazem mal às empresas. A gasolina venezuelana é a mais barata do mundo. Aproximadamente US$ 0,01 por litro de acordo com os "Preços Globais de Gasolina". Durante 20 anos os preços ficaram congelados. Um consumidor poderia achar isso bom, mas não deveria.

Como o custo de produção da gasolina venezuelana é muito acima de US$ 0,01 por litro, o governo precisa subsidiar essa diferença. Estima-se que esse tipo de política tenha causado R$ 15 bilhões de prejuízo aos cofres públicos por ano. Como o dinheiro sai do bolso dos contribuintes, todos pagam esta conta, inclusive os mais pobres que sequer possuem carros. Além disso, com sucessivos prejuízos, a empresa não consegue investir em novas tecnologias, não conseguindo elevar a produção.

Voltando ao caso do gás de cozinha, um subsídio como vinha ocorrendo pressiona as margens da Petrobras e faz com que a empresa não consiga gerar caixa para investir. Este ano, a Petrobrás anunciou mais de R$ 10 bilhões em cortes de investimentos. Se esse fato acontece sucessivamente, a empresa perde competitividade, passa a produzir seus produtos com tecnologias cada vez mais ultrapassadas e não consegue reduzir o preço de produção no médio e longo prazo.

Além disso, a nova política de preços torna mais previsível as receitas da empresa. Para um credor isso é importante, pois torna as receitas mais estáveis à medida que a empresa não é utilizada por fins políticos, com uma política de preços arbitrária. Com isso, o acesso ao crédito torna-se mais barato.

A nova política de preços pode tornar os preços do botijão de gás mais barato, como aconteceu recentemente com o preço da gasolina. Mas também pode tornar mais caro. Tudo depende da flutuação externa. Mas, preços baixos de forma artificial não funcionam. Em política econômica, o barato sai caro.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira