Combinando com os russos (e com o resto do mundo)
Apesar da crise, o país não pode ficar parado no tempo e se isolar do resto do mundo. A maior inserção do Brasil nas cadeias globais de comércio e nas discussões sobre temas como o meio ambiente é fundamental para o desenvolvimento.
Como alertado pelo Garrincha na Copa de 1958, para o esquema do então técnico Feola contra a seleção soviética funcionar faltava combinar com os russos. No futebol o Brasil costumava se sair bem, mesmo sem muita preparação e diálogo internacional: na Copa da Suecia, o Brasil levou a taça e no caminho venceu a Russia por 2 a 0.
Infelizmente, não tem Garrincha na economia. Ficar de fora dos acordos e querer resolver tudo sozinho não funciona no mundo globalizado. É preciso tática e estratégia para se sair bem na arena internacional.
Nesse sentido, a iniciativa do governo de buscar acordos comerciais e diplomáticos com a Rússia e Noruega é positiva. Na mesma linha, o bloco comercial Mercosul (formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) retomou negociações com a União Europeia (EU), que já se arrastam há mais de 20 anos. Canadá e países latino-americanos como o México, além do bloco econômico EFTA (sigla em inglês para Associação Europeia de Livre Comércio), composto por Suíça, Noruega, Islândia e Liechstenstein, também têm recebido mais atenção.
Dentre os objetivos do encontro do presidente Michel Temer com as autoridades russas estão o estreitamento das relações nas áreas de segurança de informação, cooperação técnico-militar e espacial, além de captação de investimentos para as áreas de energia, gás e petróleo. A previsão é de que os dois países assinem acordos bilaterais em temas como promoção de comércio e investimentos, intercâmbio cultural e consultas políticas. O Brasil deve apoiar a candidatura de São Petersburgo como sede da Expo 25 e os russos a tentativa brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A Rússia é o 16º maior parceiro comercial brasileiro em termos de corrente de comércio, isto é, exportações mais importações. O governo aposta na diversificação da pauta exportadora, que em 2016 atingiu US$ 2,3 bilhões. Do total, 22% correspondeu a carne de suíno e 18% de soja triturada. Os russos por outro lado são importantes fornecedores de nutrientes e fertilizantes para a agricultura brasileira.
Não apenas com a Rússia, é fundamental que o Brasil avance em acordos com outros países. O início das conversas com a UE, por exemplo, data de 1999 e até hoje pouco foi feito. No ano passado os europeus importaram cerca de US$ 33,8 bilhões do Brasil, principalmente produtos básicos e semimanufaturados. Mais de 7 mil empresas brasileiras exportam para a UE e quase 20 mil importam produtos do bloco econômico europeu.
A ida à Noruega, por sua vez, tem como foco a agenda ambiental. O país é o que mais investe em ações de conservação e preservação de florestas tropicais em todo o mundo e é hoje um dos principais parceiros do Brasil no combate ao desmatamento na Amazônia. Os noruegueses já doaram cerca de US$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia, mas novos investimentos dependem da redução do desmatamento da floresta.
É importante que o Brasil participe do debate internacional sobre meio ambiente e demonstre, por exemplo, engajamento com o cumprimento do Acordo de Paris, visando reduzir emissões de gases de efeito estufa. Como uma das maiores economias do mundo, o país precisa ser um exemplo de como é possível conciliar crescimento som sustentabilidade.
O mundo não para. Mesmo em crise, o Brasil precisa ter uma estratégia inteligente de inserção na economia internacional. Até recentemente, prevalecia muito discurso e ideologia. É hora de priorizar aquilo que é fundamental para o desenvolvimento, com um novo olhar para o meio ambiente.
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