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Blog do Gesner Oliveira

É hora de apostar em ações de empresas estatais?

Gesner Oliveira

23/08/2017 11h50

O comunicado do Ministério das Minas e Energia sobre a proposta de privatização da Eletrobras provocou uma euforia no mercado financeiro. O índice Ibovespa chegou a romper os 70.000 pontos pela primeira vez desde janeiro de 2011 e as ações da companhia elétrica subiram 32% (ELET6) e 50% (ELET3) no dia posterior ao anúncio. Talvez haja espaço para mais valorização de empresas controladas pelo governo.

A valorização não se restringiu às ações das estatais. Bradesco e Itaú subiram em torno de 2%, Petrobras avançou 3%, Cemig atingiu 8% de alta e Usiminas valorizou-se 4%.

Desde as privatizações do Governo FHC, a União não toma uma decisão tão arrojada com relação às empresas estatais. A proposta será apresentada ao Conselho da empresa e ao Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e ainda terá um longo caminho pela frente. Mas o mercado antecipa mudanças.

A expectativa é que a oferta de ações levante um montante de R$ 27 bilhões, o que ajudaria o Governo no déficit fiscal de R$ 159 bilhões em 2018.

Apesar da desestatização, a União ainda vai continuar acionista da empresa, com poder de veto com uma ação especial que em inglês é denominada Golden Share. Além disso, a União se beneficia com a valorização da empresa e o recebimento de dividendos. Serão criadas barreiras para que o controle não fique nas mãos de um único grupo ou investidor. A desestatização vem em boa hora para a empresa, que enfrenta grandes problemas de caixa e acumula dívidas em torno de R$ 43 bilhões.

Empresas estatais geralmente apresentam um valor descontado com relação aos seus pares. A diminuição da ingerência do Estado, de todo modo, traz resultados positivos para companhias. Uma gestão mais profissional acaba com o loteamento político de cargos e diminui a brecha para a corrupção. A gestão tende a ser mais racional, melhorando o desempenho da Companhia e a qualidade dos serviços para o consumidor.

Embraer e Vale foram casos de sucesso. A Embraer (EMBR3) foi privatizada em 1994, apresentando um prejuízo de R$ 321 milhões e à beira da falência. Hoje a empresa tem um valor de mercado de aproximadamente R$ 12 bilhões e fechou 2016 com um lucro de R$ 585 milhões, sendo a terceira maior empresa do mundo no segmento, atrás das concorrentes Airbus e Boeing.

A Vale do Rio Doce (VALE3) foi privatizada em 1997. Desde então, o lucro líquido saltou de US$ 325 milhões para US$ 3,9 bilhões e a empresa – que foi vendida por US$ 3,3 bilhões – tem hoje um valor de mercado de R$ 158 bilhões, figurando entre as maiores mineradoras do planeta. A melhor maneira de criar campeãs nacionais é o Estado não se meter nos negócios privados, apenas assegurar condições básicas de competitividade.

Mas cuidado com a euforia do mercado. Privatização não é o remédio para todos os males. Para dar certo, precisa ser bem planejada e transparente, além de vir acompanhada de uma boa regulação para assegurar tarifas que não sejam salgadas demais para os consumidores do presente; nem baixas demais, impedindo que o investimento garanta que os consumidores do futuro não sofrerão com novos apagões.

A moral da estória é que as ações das estatais merecem sim maior atenção por parte dos investidores. Para aqueles que têm apetite de investir em ações, há uma perspectiva de valorização. Mas cuidado para não se contagiar com a euforia do pregão de ontem. O processo da Eletrobrás bem como das dezenas de estatais no Programa de Parcerias Privadas (PPI) será mais longo e instável do que a euforia do mercado sugere.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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