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Blog do Gesner Oliveira

Sai Janot, entra Dodge: melhor para a economia, pior para os corruptos

Gesner Oliveira

18/09/2017 17h24

A mudança de comando na Procuradoria-Geral da República (PGR) com a substituição de Rodrigo Janot por Raquel Dodge é positiva para a economia e para o combate à corrupção.

Para a economia funcionar bem, é fundamental que haja segurança jurídica. Isto é, que as regras sejam estáveis e que se respeite o devido processo legal. Aí reside a contribuição da nova comandante da PGR à recuperação em curso. O respeito à lei e uma postura mais técnica por parte de Raquel Dodge reduzirá a incerteza. Isso é bom para o investimento e para a geração de empregos.

Por ser uma técnica que zela por sua reputação, seu trabalho deve priorizar a investigação rigorosa e não o espetáculo midiático. O resultado é maior previsibilidade e menos sobressaltos no mercado.

Exatamente o oposto de Janot. A impressão que ficou especialmente de seus últimos meses no cargo é de que a pressa em gerar o fato político antes de concluir o mandato substituiu o rigor na instrução do processo. A busca pelos holofotes parecia ser a prioridade, em detrimento dos limites da legislação e dos possíveis impactos sobre a economia.

A última "flecha" de Janot acertou um de seus alvos não declarados: a agenda de reformas, especialmente a da Previdência. O trâmite da segunda denúncia, por menos séria que seja, deverá tomar tempo precioso do Congresso para a votação da reforma. A expectativa é que, se aceita, a denúncia só seja votada na segunda semana de outubro.

Além disso, a nova flechada dá margem a toda sorte de barganha e comportamento oportunista na formação de coalizão que no final das contas deverá bloquear mais uma denúncia inepta. Ficou clara a resistência corporativista destinada a inviabilizar reformas que eliminam privilégios; tudo, é claro, travestido de combate à corrupção.

Ao contrário do que pensam alguns analistas, a mudança de comando na PGR também é positiva para o combate à corrupção. Apesar de seu perfil sereno, Dodge não deverá dar moleza aos corruptos. Espera-se menos vazamentos e mais investigações que, quando conduzidas com maior rigor técnico e com base em fatos, levam à efetiva condenação e não simplesmente a manchetes bombásticas de acusação sem provas.

Um procurador geral deve ser um investigador minucioso e um fiscal rigoroso da lei e é isso que se espera de Raquel. Será preciso eliminar o viés político que acabou por desvirtuar o papel de uma instituição tão importante para a democracia quanto o Ministério Público. Isso é crucial para a credibilidade de ferramentas essenciais para o combate à corrupção, como a delação premiada, que a imperícia de Janot colocou em risco.

Em seu discurso de posse, a nova procuradora geral citou a poetisa Cora Coralina, dizendo que espera terminar seu mandato de dois anos contribuindo para que haja "mais esperança nos nossos passos do que tristeza em nossos ombros". É o que deve ocorrer com mais previsibilidade nas ações da PGR. A economia agradece, os corruptos não.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira