Brasil à espera do lenga-lenga da segunda denúncia
A segunda denúncia do ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, ilustra como o Brasil vive no mundo da fantasia. Imerso em profunda crise fiscal com desdobramentos trágicos sobre o restante da economia, o Congresso passará as próximas semanas concentrado na votação de mais uma denúncia inepta, cujo resultado formal será o arquivamento.
Os efeitos práticos todo mundo já sabe: barganha político-partidária da pior espécie e procrastinação das reformas em benefício exclusivo daqueles que não querem perder seus privilégios.
Na economia há sinais de melhora. A começar pelo otimismo crescente com relação à recuperação. O relatório Focus do Banco Central mostrou que pela quinta vez consecutiva caiu a expectativa do mercado para a inflação neste ano, agora em 2,97%. É a primeira vez que o número fica abaixo dos 3%. Para o PIB, as projeções tiveram leve alta de 0,60% para 0,68% em 2017 e de 2,20% para 2,30% em 2018. As estimativas para os juros permanecem no menor patamar histórico.
O problema é o rombo nas contas públicas que beira R$ 160 bilhões. E olhe lá, porque pode ser mais. As receitas extraordinárias como os recursos do programa Refis e dos leilões na infraestrutura serão fundamentais para fechar a conta no final do ano. Há grande expectativa com relação às concessões das usinas hidrelétricas amanhã, que podem render cerca de R$ 11 bilhões para os cofres públicos.
Os desdobramentos sobre o restante da economia são trágicos. Basta olhar para a situação fiscal em estados como Rio de Janeiro ou Minas Gerais. Sem dinheiro, não tem como pagar salários e é preciso até cortar gastos de setores fundamentais para a população. Ministérios como o da Saúde e Educação, por exemplo, viram seus orçamentos serem cortados em cerca de 10% e 20%, respectivamente.
Daí a importância da reforma da Previdência. Apesar do ajuste nos gastos sob controle do governo, despesas com a Previdência seguem em alta. O déficit do governo central é cada vez mais previdenciário e é por isso que é fundamental atacar o problema de frente. Era o que se esperava ver em discussão no Congresso e na sociedade. E não o lenga-lenga da segunda denúncia que deve durar até a terceira semana de outubro; para, depois de muita politicagem, ser arquivada.
Apesar desse descompasso entre a agenda política e os reais problemas do país, os indicadores econômicos continuam positivos. Mas o atraso da agenda reformista aliado à precoce discussão das candidaturas às eleições de 2018 representam riscos ao ajuste da economia no médio prazo. Em vez de ficar barganhando votos e defendendo privilégios, o Congresso deveria estar discutindo o que realmente importa para os brasileiros.
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