IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Histórico

Categorias

Blog do Gesner Oliveira

Você é sempre racional na economia? Prêmio Nobel acha que não

Gesner Oliveira

09/10/2017 15h07

Nem todas as decisões tomadas são racionais. E isso contrasta com a maioria dos modelos utilizados nos estudos de economia. O economista americano Richard Thaler, da Universidade de Chicago, recebeu hoje o Prêmio Nobel de Economia por seus estudos na área de economia comportamental. Sua grande contribuição foi mostrar o lado humano das escolhas individuais e como o processo de escolha é mais complexo do que os modelos convencionais supõem.

A maioria dos modelos econômicos sustenta-se na presunção de que as pessoas são, em essência, seres racionais e egoístas. As decisões seriam pautadas na razão para maximizar seu bem-estar individual. Baseando-se em todas as informações disponíveis, este indivíduo opta sempre por aquilo que lhe oferece mais satisfação com o menor esforço.

A ideia do Homo economicus é chamada de teoria da escolha racional e foi exposta pelo economista Adam Smith, em sua obra "A riqueza das nações", de 1776. Para ele, a interação econômica humana seria ditada pelo interesse pessoal: "não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que devemos esperar nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse". O que faz sentido em muitos os casos e tem sido útil para entender o funcionamento da economia.

Acontece que, com o passar do tempo, verificou-se que nem todas as decisões das pessoas são 100% racionais. Imagina-se, por exemplo, que um ladrão de banco não faz um cálculo aprofundado entre custos e benefícios antes de realizar um roubo. Não valerá a pena na grande maioria dos casos (a não ser que ele já considere ser agraciado com uma delação superpremiada) e mesmo assim o que se observa é que há muitos roubos por aí.

Além disso, é utópico pensar que em todas suas decisões as pessoas levam em conta todas as variáveis envolvidas. O mundo é muito complexo e muitas vezes até informações disponíveis são deixadas de lado. Na prática, quase sempre as pessoas tomam decisões rápidas, com base apenas em sua experiência própria, no hábito ou em regras práticas. Por que as pessoas viajam para o outro lado da cidade para economizar R$ 5 em um livro de R$ 50, mas é improvável que façam o mesmo para poupar R$ 5 em uma TV de R$ 1.000? O efeito na riqueza líquida é o mesmo.

Até o início dos anos 1980, a ideia das escolhas racionais foi predominante no campo das ciências econômicas. Mas em 1979, dois psicólogos israelense-americanos, Amos Tversky e Daniel Kahneman, publicaram um trabalho importante, intitulado em português como "Teoria da Prospecção: uma análise da decisão sob risco". Isso marcou a criação de novo ramo de estudo chamado economia comportamental. A ideia de ambos era exatamente tornar as teorias econômicas sobre tomada de decisão mais realistas do ponto de vista psicológico.

Os autores descobriram que as pessoas costumam violar a ideia de escolhas racionais, sobretudo em situações de risco. Se a pessoa tem a opção de receber R$ 100 com 100% de certeza ou R$ 250 com 50% de chance, opta-se normalmente pelos R$ 100 garantidos. Agora quando a situação é contrária: perder R$ 100 com 100% de certeza ou perder R$ 250 com 50% de chance, opta-se normalmente pela segunda. Isso se chama propensão ao risco.

Além da questão do risco, a ideia do homem racional também é irrealista quando metas de longo e curto prazo são conflitantes. Não existe exemplo mais comum do que alguém comprando uma comida nada saudável, mesmo sabendo que tal escolha não condiz com seu objetivo de perder peso no futuro.

Em um de seus livros mais famosos, "Nudge" (incentivo ou empurrãozinho em Português), o vencedor do Nobel, Richard Thaler, trata exatamente de o porquê as pessoas não tomam decisões racionais e como podem evitar cair em pegadinhas de marketing ou fazer escolhas alinhadas com os objetivos de longo prazo. Sua contribuição vinda da Psicologia aproximou um pouco a economia do mundo real.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira