Denúncia deve ser arquivada, qualquer outro resultado é zebra
Essa semana deve terminar a grande perda de tempo com a discussão da denúncia contra o presidente Temer. O Brasil parou por mais de um mês para assistir o mesmo filme: uma denúncia inepta, o Congresso gastando recursos e esforços até o arquivamento. É quase certo que o desfecho será o mesmo da primeira denúncia; qualquer resultado diferente seria tão surpreendente quanto desastroso para a economia.
Isso não quer dizer que os temas levantados não mereçam investigação. O problema é que a denúncia foi mal feita com um indisfarçável viés político. Não bastasse ter interrompido o cronograma de reformas, uma denúncia tão mal formulada e acompanhada de um suspeito acordo de delação com a JBS prestou um desserviço ao combate à corrupção.
A pergunta chave é o que acontecerá depois. A esperança é a de que o Congresso volte a debater temas relevantes para o Brasil, como a tão necessária reforma da Previdência.
As expectativas do mercado continuam otimistas, apesar da confusão da política. A projeção para o crescimento do PIB teve uma ligeira melhora para este ano, de 0,72% para 0,73% de alta. Para o ano que vem permaneceu em 2,50%. A projeção para o comportamento da produção industrial sofreu uma revisão mais forte e saltou de alta de 1,18% para 2% ao ano. Enquanto em 2018 subiu de 2,50% para 2,73%.
Com relação aos juros, é quase unânime a expectativa de queda de 0,75 ponto percentual na reunião de quarta-feira (25) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Isso significa que a taxa Selic deve cair de 8,25% ao ano para 7,5% ao ano, menor patamar desde maio de 2013. Espera-se que os juros fiquem em 7% ao ano no final de 2017.
A grande expectativa da reunião do Coimitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira será pelo comunicado pós-decisão. O texto pode indicar se o Copom vê chances de a taxa continuar caindo no início de 2018. Fala-se em taxas em torno de 6,75% ao ano ou mesmo 6,5% ao ano. Caso isso aconteça, seria um estímulo adicional à atividade, dado que a queda da Selic reflete uma taxa de inflação bem-comportada e tende a estimular o consumo e o investimento.
As boas perspectivas para a economia, no entanto, dependem da decisão de quarta-feira sobre a denúncia contra Temer. O mercado ficará atento ao número de votos favoráveis ao presidente, que pode ser um indicativo do tamanho da base aliada para votações importantes que se espera agora depois da conclusão da denúncia.
O grande desafio é retomar as medidas de ajuste fiscal. Em particular a reforma da previdência, vital para o equacionamento de médio e longo prazo das contas públicas. Mas há também outros projetos importantes, como a elevação da alíquota do INSS de 11,0% para 14,0% dos funcionários públicos e a reestruturação da carreira dos futuros funcionários públicos, com uma escala salarial mais realista.
Ninguém gosta de assistir um filme ruim. Muito menos duas vezes. A economia vai saindo do buraco, mas a política também tem que fazer sua parte. O país precisa que o Congresso volte logo a discutir o que realmente importa.
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