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Blog do Gesner Oliveira

Risco eleitoral em 2018 será menor do que em 2002

Gesner Oliveira

04/12/2017 23h07

Conforme a última pesquisa do Datafolha, divulgada neste domingo, Lula (PT) lidera as pesquisas de intenção de voto para 2018 e Jair Bolsonaro (PSC) segue isolado em segundo. O mercado não morre de amores por eles, mas ainda é cedo para dizer que a economia vai balançar em 2018 por conta de um novo risco Lula como ocorreu em 2002. Ou por um possível risco Bolsonaro. 2018 não será 2002.

Em 2002, às vésperas do primeiro mandato de Lula o mercado temia o desconhecido. O risco-país batia na casa dos 2 mil pontos e, entre janeiro e outubro do ano eleitoral, a bolsa despencou 31,8% e o dólar chegou a R$ 4,00.

Hoje, os dois líderes da corrida eleitoral assustam o mercado por terem uma visão menos favorável à agenda de reformas. E é cada vez mais evidente que o país precisa delas para transformar a recuperação em crescimento sustentado.

A julgar pelos dados do Datafolha com todos os possíveis candidatos a presidente, dá para dizer com relativa segurança, que a agenda reformista teria apenas 12% dos votos, o equivalente à soma do branco/nulo/nenhum e nem metade dos votos de Lula. As reformas não iriam nem para o segundo turno, já que perderiam para Bolsonaro que aparece com 17%.

Mas qualquer conclusão agora seria precipitada. Primeiro, porque não se sabe quais serão os candidatos para a disputa do ano que vem. Segundo, também não se sabe se os candidatos hoje contra as reformas vão permanecer assim até o fim de um possível mandato. A própria recuperação da economia deve balançar as agendas dos candidatos. Depois de 2,8 milhões de empregos formais destruídos no biênio 2015/16, estima-se que sejam criados um milhão de vagas em 2018. Mercado tem revisado para cima a expansão do PIB em 2018, situando em 2,6%. E ainda é conservador; economia deverá crescer mais de 3% no ano que vem.

Terceiro, muita água ainda vai rolar até as eleições. Cerca de um ano antes das eleições de 2014, Dilma liderava com folga, com cerca de 40% dos votos. Marina Silva estava na frente de Aécio Neves, que acabou indo para o segundo turno e por pouco não venceu Dilma. Em dezembro de 2009, José Serra tinha 37% dos votos e Dilma apenas 23% para depois ser eleita no segundo turno.

Por fim, a economia está mais blindada aos choques eleitorais em 2018 relativamente a 2002.  Em 2002, o Brasil estava batendo na porta do FMI por empréstimos de mais de US$ 40 bilhões. Hoje o Brasil dispõe de cerca de US$ 380 bilhões de reservas e a entrada de investimento direto estrangeiro supera em mais de quatro vezes o déficit em conta corrente com o resto do mundo. As contas externas folgadas servem de colchão amortecedor para os solavancos da política.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira