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Blog do Gesner Oliveira

Temer vs Temer: o popular e o reformista

Gesner Oliveira

22/12/2017 16h28

Pela primeira vez a popularidade do Governo Temer subiu. O nível de popularidade permanece baixo, mas algo aconteceu, a curva virou. A parcela dos que aprovam sua maneira de governar subiu de 7% para 9%. E os que avaliam o governo como bom ou ótimo avançou de 3% para 6%.

A recuperação da economia explica uma boa parte da virada. O prato típico do brasileiro leva arroz e feijão. Os preços destes dois itens caíram 11% e mais de 50%, respectivamente.  O preço da carne caiu cerca de 3%. Tudo bem , o tomate ficou um pouco mais caro, mas quem liga pra salada?

A deflação nos alimentos (isto é, queda de preços) foi ótima para o consumidor, especialmente de baixa renda. A inflação vai fechar o ano em um mínimo histórico, algo como 2,8%, impensável há menos de dois anos atrás. Segundo o Ipea, a inflação das faixas de renda mais baixas deve ser ainda menor, de 2%. Isso porque os alimentos pesam mais no orçamento dos mais pobres.

O PIB voltou a crescer em 2017 e há expectativas positivas para 2018. O mercado de trabalho dá os primeiros sinais de melhora e a inflação segue bastante baixa, especialmente dos preços dos alimentos. Dessa forma, a população começa a perceber uma pequena melhora em seu dia-a-dia.

Mas essa melhora não garante um salto de popularidade como aquele experimentado pelo Presidente Itamar com o Plano Real em meados dos anos noventa. Na ocasião, a popularidade de Itamar saltou de menos de 20% para mais de 40%. E impulsionou a eleição do ex-presidente FHC, então Ministro da Fazenda, ainda no primeiro turno.

No caso do Plano Real, houve um aumento abrupto do poder de compra dos trabalhadores, com o fim da hiperinflação. Algo que equivale a baixar um imposto, na realidade o pior dos impostos, o imposto inflacionário. Este aumento do poder de compra gerou uma rápida sensação de melhora no bem-estar das famílias.

A recuperação da economia na atualidade é diferente daquela que ocorreu em 1994. Tem um caráter mais lento, envolve contenção de gasto e demorará mais para ser percebida pela população. Assim, dificilmente o presidente Temer deixará a presidência com uma popularidade tão alta quanto a de Itamar, embora provavelmente superior à atual.

Se a popularidade continuar crescendo à mesma taxa que subiu neste quarto trimestre até o fim do próximo ano, encerraria 2018 em 24%. Ainda abaixo de quando ele começou seu governo (31%) e muito inferior àquela de Itamar Franco ao término de seu mandato (45%).

Embora limitada, a melhora da avaliação do governo é um capital político importante, que pode ajudar muito para a necessária aprovação da reforma da previdência, se for usado com sabedoria.

Em contraste, se servir para uma eventual candidatura de Temer poderia retirar e não somar apoio às reformas. Reconhecido como mais um candidato na disputa, Temer popular poderia comprometer a missão já difícil o suficiente do Temer reformista.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira