Por que o mercado tem ignorado a confusão política?
A bolsa de valores continua batendo recordes históricos nominais (isto é, sem descontar a inflação), apesar da confusão da política. Os indicadores de PIB e inflação para este ano continuam bons, apesar dos desencontros entre Executivo e Legislativo, da retirada de pauta da reforma da previdência e das criticas em relação ao pacote de quinze medidas requentadas anunciadas pelo governo.
Parte desse otimismo é explicado pelo cenário externo favorável. Depois do recente susto com a queda das bolsas internacionais, o mercado retomou a tendência de alta e a percepção, por ora, é a de que foi mais uma correção mais forte de preços do que propriamente um prenúncio de nova crise internacional.
A ata da reunião do Fomc (Comitê que decide os juros nos EUA) divulgada na terça ajudou. O Fomc não parece preocupado com um superaquecimento dos EUA. O documento reafirmou que a alta nos juros dos EUA deve ser gradual. O dinheiro continuará barato no mundo, várias commodities com bons preços e países emergentes, como o Brasil, pólos de atração para investidores com apetite por risco. Por enquanto, pelo menos.
No plano interno, a suspensão da reforma da previdência não foi uma surpresa. A maioria do mercado atribuía baixa probabilidade à votação da reforma neste ano. Assim, o adiamento já estava no preço.
Por sua vez, a intervenção federal no Rio de Janeiro foi reconhecida como um movimento hábil no xadrez das eleições deste ano. O governo Temer trocou a previdência pelo combate ao crime e agradou a arquibancada. Quem pode ser contra? Retirou um alvo fácil para a oposição bater e ainda quebrou o monopólio de Bolsonaro sobre o tema da segurança pública. Ainda é cedo para dizer se vai dar certo, mas o mercado registrou a jogada.
Com o PIB crescendo a mais de 3% em 2018 e a inflação inferior a 4%, a economia vai permitir uma pequena recuperação na popularidade do presidente. Se a intervenção no Rio de Janeiro gerar uma sensação de melhora na segurança, o efeito pode ser ainda maior.
Não se espera um milagre que tornaria o Governo Temer repentinamente popular. Não é o Plano Cruzado (e muito menos o Plano Real) do Governo Temer. Mas seria o suficiente para dar suporte a uma candidatura de centro alinhada com a agenda reformista e portanto com a continuidade das linhas mestres da política econômica em 2019.
Tal percepção tem tornado o mercado um pouco mais otimista em relação aos possíveis cenários para as eleições de outubro. Admitindo-se, nesta visão, uma baixíssima probabilidade de viabilizar a candidatura Lula por razões de natureza jurídica.
Some-se a isso o fato de que, embora requentado, o pacote que o governo anunciou de maneira improvisada contém medidas positivas e necessárias. Uma delas é a privatização da Eletrobras que pode gerar receita estimada da ordem de R$ 12 bilhões, além de representar um estímulo a investimentos até agora travados pelo loteamento político do setor.
As condições acima explicam porque a bolsa continua subindo mesmo diante de tanta incerteza na política. Mas fica claro que é uma conjuntura instável. Muita coisa pode mudar, a começar pelo cenário externo. Mais uma razão para as pessoas, físicas e jurídicas, serem cautelosas com seu caixa nesta travessia de 2018.
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