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Blog do Gesner Oliveira

O que funciona para eliminar a diferença salarial entre homens e mulheres

Gesner Oliveira

08/03/2018 18h16

É sabido o enorme diferencial de salários entre homens e mulheres no mundo e no Brasil. Para eliminar o problema, as forças do mercado não são suficientes. Tampouco adianta tentar fechar o hiato salarial por decreto.

Segundo o IBGE, as mulheres recebem 76% do salário de um homem. Tal desigualdade não pode ser totalmente explicada pela educação e experiência dos trabalhadores, os empregos que escolhem, a quantidade de horas que trabalham ou o tempo que tiram de folga. Sobram outros fatores difíceis de quantificar, como discriminação ou a percepção que as mulheres têm das escolhas disponíveis para elas.

Então, o que seria preciso para acabar com a diferença? É indispensável conciliar meritocracia com igualdade de oportunidades.

O estabelecimento de metas de participação das mulheres na alta cúpula das empresas é um exemplo. Considerando que o percentual é baixo na atualidade (menor que 10%), seria artificial fazê-lo repentinamente. Mas seria possível fixar metas de médio prazo e persegui-las com programas de capacitação e sucessão.

A transparência no momento do pagamento é um caminho. Ao deixar público os salários, a diferença tende a diminuir. Jake Rosenfeld, sociólogo da Universidade de Washington, descobriu que a transparência salarial aumenta os pagamentos, em parte por dar legitimidade para os argumentos dos funcionários em negociações de salários.

Estudou-se também o efeito de uma lei do Estado da Califórnia, que exigiu que as cidades tornassem públicos os salários municipais. Essa lei acarretou em cortes de salários dos homens. As cidades podem ter deixados os salários mais justos para evitar processos ou as mulheres tiveram o poder da negociação.

Um outro exemplo reflete comportamentos diferentes na mesa de negociação. Há estudos que sugerem que os homens ganham mais porque é muito mais provável que peçam mais. Quando recebem ofertas de trabalho, metade dos homens e apenas uma entre oito mulheres pediram salários maiores, segundo um estudo da Universidade Canergie Mellon. Em outra pesquisa, descobriu-se que, quando as mulheres negociam, pedem 30% menos do que os homens.

Outra discussão é a de reduzir obstáculos ao mercado de trabalho para as pessoas do sexo feminino. Pesquisa da Universidade de Harvard mostra que os primeiros salários de homens e mulheres no início de carreira não tem muita disparidade. A diferença de salários por gênero aumenta alguns anos depois, quando as mulheres começam a ser mães

O pagamento costuma diminuir e, por conseguinte, aumentar a diferença para os homens quando elas saem do emprego quando os filhos são pequenos, trabalhando menos horas ou tendo mais folgas. Como, normalmente isso é feito por mulheres, os homens tendem a ganhar mais. Mesmo que isso não seja verdade, as empresas tendem a assumir esse pensamento.

Leis que ajudem a manter as mulheres na força de trabalho, como creches baratas e confiáveis ajudam. Uma campanha para uma divisão mais equânime dos afazeres domésticos também. O trabalho à distância recentemente previsto na legislação pela reforma trabalhista pode contribuir. A maior integração das famílias, e dos filhos em particular, no ambiente de trabalho também aliviam o ônus que costuma recair sobre as mães trabalhadoras.

Nenhuma providência, por si só, garantirá a redução da desigualdade. É fundamental que as medidas de incentivo venham acompanhadas de uma mudança cultural nas famílias, nas escolas e nas empresas públicas ou privadas. É urgente acelerar esse processo sob pena de condenar não apenas as mulheres, mas toda sociedade a um ficar muito aquém de suas potencialidades.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira