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Blog do Gesner Oliveira

Como proteger sua poupança de um candidato populista

Gesner Oliveira

14/03/2018 13h06

Ano de eleição é tipicamente marcado por incerteza. Ninguém tem bola de cristal para saber quem vai ganhar. Mas é possível relacionar as propostas dos candidatos e a reação dos mercados e dessa forma blindar os investimentos.

Os candidatos podem ser divididos em dois times:  aqueles que defendem a continuidade das reformas econômicas e do ajuste fiscal nas contas do Estado e os que são contra as reformas, especialmente a da previdência.

Supondo que Lula não poderá concorrer, os candidatos que apoiam as reformas, como o Ministro Meirelles, têm hoje 18% do eleitorado; contra 14% daqueles que são contrários às reformas, como Guilherme Boulos do PSOL ou Manuela Dávila do PC do B. 31% tem posição ambígua como a indecifrável Marina Silva.

Os mercados financeiros têm sinalizado grande resistência às candidaturas contrárias às reformas. Basta comparar o desempenho da Bolsa durante os governos Dilma e Temer. No período Dilma a Bolsa despencou 30% até o início do processo de impeachment. Em contraste, sob Temer, com um programa de reformas e a despeito de inúmeras acusações de corrupção, a Bolsa cresceu mais de 60%.

Como a conjuntura eleitoral é tipicamente instável, as cotações vão oscilar de acordo com a bolsa de apostas em  cada candidato ou força política. Daí a necessidade, para o investidor avesso ao risco, de ser conservador e procurar blindar sua carteira em relação ao sobe e desce dos mercados.

O mercado também não gosta do desconhecido. Assim, fórmulas mágicas, que na política latino-americana já foram propostas várias vezes, não serão bem recebidas. Em contraste com a época das vacas gordas do boom de commodities, o cenário externo não dá mais espaço para ignorar a contabilidade básica. Assim como na economia doméstica, as contas têm que bater no final do mês E ninguém vende fiado por muito tempo e para quem não mostra vontade de acertar o débito acumulado.

Para evitar a explosão da dívida pública é preciso conter gastos e aumentar receitas. No caso brasileiro, esta última opção é péssima para o crescimento, pois os impostos já são excessivos.

Um candidato "centrado" que seja capaz de comunicar bem estes fatos à população, poderia afastar soluções milagrosas que podem até funcionar por algum tempo, mas que acabam custando muito caro, especialmente para os mais pobres. Caso uma candidatura dessa natureza se fortaleça, os mercados vão reagir positivamente e a bolsa poderá gerar ganhos iguais ou maiores aos dos últimos dois anos (aproximadamente 70%!).

Como a reação dos mercados financeiros é muito rápida, não se descarta a hipótese de que os próprios candidatos que hoje criticam as reformas, venham a mudar o discurso, convergindo para um programa de centro.

As circunstâncias atuais da América Latina e do Brasil sugerem cautela. Por sorte, o clima não está propício aos milagreiros e aventureiros. Como não dá para estar 100% seguro deste fato, é bom ser conservador. O leitor avesso ao risco deve preferir uma carteira conservadora na qual abre mão de ganhos milionários, mas protege seu dinheirinho.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira