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Blog do Gesner Oliveira

Obrador, presidente eleito no México, Lula e Trump

Gesner Oliveira

04/07/2018 17h16

Solidariedade aos mexicanos que em 24 horas foram eliminados pela sétima vez seguida em oitavas de final da Copa do Mundo e elegeram mais um populista para um mandato de seis anos.

A eleição de AMLO, como é conhecido Andrez Manuel Lopez Obrador, para a presidência do México marca uma nova fase na historia políca do último adversário do Brasil na Copa. É a primeira vez depois de várias décadas que um candidato da chamada esquerda assume o poder.

Há alguma semelhança com a primeira vitória de Lula, em 2002.  Aquela foi a primeira eleição de um candidato do Partido dos Trabalhadores, à época uma novidade da Nova República. Em contraste com o petista, não houve um grande pânico no mercado com a eleição de AMLO. E ele nem precisou escrever uma carta aos mexicanos como Lula fez em 2002 pelas mãos de Palocci para tranquilizar os investidores.

Os mercados estão tranquilos por ora porque AMLO está longe de representar uma opção radical. A  inflação mexicana está em 4,5% em 12 meses contra 3% no Brasil. O desemprego médio é baixo – inferior a 4% – contra 12,7% no Brasil. Ambos países têm um enorme subemprego e mercado informal. É razoável supor que nos dois países pelo menos 25% da força de trabalho esteja subocupada.

A exemplo de Lula e ao contrário do atual presidente, Peña Nieto, AMLO é um comunicador nato. Fala de forma intuitiva e direta com a população. O problema é que só tem propostas genéricas para enfrentar os enormes desafios de pobreza, desigualdade e violência no México. Além de uma crise imigratória sem precedentes na fronteira com a maior economia do mundo, sob a gestão Donald Trump.

À primeira vista pareceria que as relações entre México e EUA iriam azedar de vez. Não foi o que os primeiros tuítes de Trump indicaram. Curiosamente, Donald Trump acenou com mais diálogo ao vizinho do sul. Como explicar que Trump trate melhor um presidente de centro-esquerda comparativamente ao atual presidente Enrique Peña Nieto, que vem fazendo reformas liberais no México?

Na verdade, há pontos de identidade entre AMLO e Donald Trump. Ambos procuram estabelecer uma relação direta com seuas apoiadores defendendo teses populistas. Também abraçam bandeiras conservadoras que fidelizam seus apoiadores na área dos costumes, sendo contrários, por exemplo, ao aborto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo.

AMLO terá uma retórica dura contra políticas dos EUA, fará muito teatro, mas será pragmático no essencial. Procurará negociar acordos comerciais e minimizar a ação de Trump contra os imigrantes e as empresas que investem dos EUA e geram empregos no México visando vender no mercado norte-americano.

AMLO terá um discurso favorável aos países em desenvolvimento e não deverá ser abertamente crítico à Venezuela, Cuba ou Nicarágua. Mas não há chance de usar algum destes países como modelo. Nunca terá o bolivarianismo chavista como referência. O novo presidente mexicano está longe do figurino liberal preferido pelos mercados, mas não é bobo.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira