Banco Central não faz milagre
A sabatina do economista Roberto Campos Neto, indicado pelo presidente Bolsonaro para substituir Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, transcorreu conforme o esperado.
Em contraste com a virada do governo Dilma para Temer, na qual houve uma mudança clara na gestão da política monetária, a passagem de Temer para Bolsonaro foi caracterizada pela continuidade.
O recado de Roberto Campos Neto, neto de Roberto Campos, ministro do Planejamento de 1964 a 1967, foi de que vai manter a política anterior e tem total afinidade com a política econômica de Paulo Guedes. Sem novidade, a sabatina não mexeu com o mercado.
Campos Neto tampouco surpreendeu ao reafirmar seu compromisso com a estabilidade da moeda e com a solvência do sistema financeiro. Dito assim, parecem objetivos distantes da vida cotidiana, mas não são. Basta lembrar de 2015, quando a inflação chegou ao patamar de dois dígitos, corroendo o ganho dos assalariados. Ou o inferno que o Brasil viveu com a hiperinflação em 1989/90 e que a Venezuela vive hoje com taxa de inflação de 3 milhões!
Mas, se a inflação parece domada, os juros continuam a incomodar quando se considera o que o tomador final paga para ter um empréstimo.
A Selic, taxa básica, está em 6,5% ao ano, mas o juro para o tomador final pode chegar a muito mais, dependendo da categoria. Na média, o Banco Central estima em 20%. Mas quem cair no rotativo do cartão de crédito, ou pior, no cheque especial, vai pagar mais de 300% ao ano.
O Brasil já aprendeu, a duras penas, que não dá para baixar o juro por decreto. Nesse sentido, é positivo o compromisso de Campos Neto de dar continuidade à agenda microeconômica. Isso envolve estímulo às fintechs (startups inovadoras do sistema financeiro), o cadastro positivo de crédito e o conjunto de inovações que permitem uma sensível redução da burocracia e dos custos de transação dos empréstimos.
A exemplo de outros órgãos de controle, o Banco Central só pode cumprir bem sua missão se for independente. Daí a importância do projeto de lei que está no Congresso sobre independência do Banco Central. Só a lei não basta, mas ajuda muito.
Um banco central independente e com credibilidade precisa elevar menos o juro para atingir uma mesma meta de inflação. Bolsonaro é melhor do que Trump nessa matéria. O presidente dos EUA tem feito declarações contra a política monetária do Fed (banco central daquele país).
Campos Neto destacou corretamente a importância do microcrédito, das cooperativas de crédito e das tecnologias de inteligência artificial. Pintou um futuro róseo, onde o pagamento instantâneo deverá substituir transferências burocráticas e custosas.
A sabatina do Senado trouxe motivo para otimismo em relação à próxima gestão do Banco Central. Mas só a política monetária não basta. Sem defesa, nem o melhor goleiro do mundo é capaz de evitar uma goleada. Sem ajuste das contas públicas, não há milagre que possa ser feito pelo guardião da moeda.
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