Acabou a recessão, mas o desemprego ainda é muito alto
A recessão acabou, mas não para cerca de 14 milhões de brasileiros desempregados e suas famílias. Após oito trimestres de queda, o PIB deve voltar a crescer. Mesmo com uma recuperação será lenta e gradual, setores como indústria e serviços já mostram que os números para o primeiro trimestre deste ano devem vir positivos. A maior crise econômica da história do país parece estar indo embora, mas deixou sequelas importantes. O desemprego ainda é muito alto.
O índice de atividade econômica IBC-Br, divulgado ontem pelo Banco Central, subiu 1,31% em fevereiro ante o mês anterior, quando a alta havia sido de apenas 0,62%. O resultado é reflexo da melhora de 0,7% no volume de serviços prestados no país e da alta de 0,1% da produção industrial no período. Caso o indicador fique estável em março, espera-se que para o primeiro trimestre do ano o resultado seja de alta de 1,47%, o que romperia uma sequência de oito trimestres de queda.
A agenda de reformas continua viva apesar das delações da Odebrecht. Aos trancos e barrancos, é verdade, as reformas da Previdência e trabalhista têm avançado. Além disso, tanto a inflação como os juros têm caído, o que tende a estimular o crescimento econômico. Mas nem tudo na economia são flores. Para cerca de 13,5 milhões de desempregados, a crise continua.
O elevado desemprego continua sendo o maior drama atual da economia brasileira. No mês de fevereiro o desemprego atingiu a marca de 13,2%, maior nível desde 2012. Apenas de empregos com carteira assinada (CLT), nos últimos doze meses haviam sido perdidos cerca de 1,1 milhão de vagas. Para março, a estimativa é de que a taxa continue subindo e atinja 13,6%, equivalendo a cerca de 14 milhões de desempregados.
A demissão em massa de trabalhadores levou ao avanço do trabalho por conta própria. De junho de 2014 até agora, a participação deste tipo de ocupação saltou de 22,8% para 25,6% do total. Tipicamente, quando a economia vai mal e as empresas demitem empregados CLT, há uma migração para modalidades de ocupação com menor produtividade e remuneração. Tem sido tão difícil achar um trabalho que nem emprego informal subiu muito, passando de 11,2% para 11,5% no período.
Mas se o desemprego está piorando, por que vimos o anúncio da criação líquida positiva de empregos em fevereiro? O resultado positivo de 35,6 mil vagas, anunciado pelo presidente Michel Temer, diz respeito apenas aos empregos formais. Como a economia já vem se recuperando, as empresas passam a contratar mais empregados CLT. Depois de 22 meses seguidos de queda houve finalmente um resultado positivo. Ocorre que o segmento formal representa apenas 37,8% do total do mercado de trabalho.
Com a retomada da atividade, os dados sugerem que a ocupação com carteira assinada deva crescer mais que a ocupação total nos próximos trimestres. O emprego formal voltará a ganhar participação no total enquanto deve cair a parcela de emprego informal e de trabalho por conta própria. O efeito é positivo sobre a produtividade da economia.
Outra dúvida comum é com relação à defasagem do mercado de trabalho. Por que o desemprego deve continuar subindo se a economia já dá mostras de recuperação? O primeiro motivo é a rigidez no mercado de trabalho. A legislação é tão rígida que a empresas pensa dez vezes antes de voltar a contratar. Daí a importância de modernizar as leis vigentes com a reforma trabalhista.
O segundo motivo é o crescimento da força de trabalho no país, ou a chamada população economicamente ativa (PEA), que corresponde à soma de trabalhadores ocupados e desocupados procurando emprego. Em dezembro do ano passado a PEA crescia a uma taxa de 1,37% ao ano, fruto da incorporação de jovens ao mercado de trabalho. Para que o desemprego permaneça constante, portanto, é preciso que o mercado absorva no mínimo o mesmo montante de novos desocupados. Quando o mercado, ao contrário, passa a destruir empregos, a taxa de desemprego leva muito mais tempo para se recuperar.
Apesar das boas perspectivas para os próximos trimestres na economia, o drama do desemprego continua. Estima-se que apenas no terceiro trimestre do ano a taxa comece a cair. A volta vai exigir pleno emprego vai exigir alguns anos. Isso só reforça a importância da aprovação das reformas estruturantes na economia.
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