Cenário Maia é mais complicado do que parece
O cenário de uma eventual substituição do presidente Michel Temer por Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados, é mais complicado do que parece. Uma grande parte dos analistas de mercado subestima o custo de mais um processo de afastamento de um presidente da República a esta altura do campeonato.
A demora na tramitação da denúncia contra Temer pode fazer com que Maia só assuma praticamente às vésperas das eleições presidenciais de 2018. Isto pode ser uma má notícia para a economia, que hoje ainda mostra certo descolamento da turbulência política.
A crise política se agravou na última semana. Houve o envio da denúncia contra o presidente do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o relator deu parecer favorável à denúncia e aumentaram as chances de uma possível saída da base aliada do governo pelo principal partido de sustentação, o PSDB.
Em contraste com a política, os indicadores econômicos mostram sinais de recuperação da atividade e inflação comportada.
Houve deflação, isto é, taxa negativa de inflação em junho, em -0,23%, o menor número verificado desde o Plano Real. Apesar das incertezas políticas, isso abriu espaço para mais um corte de ao menos 1 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião do Copom, dias 25/26 de julho. O mercado aponta para uma Selic em 8,25% ao ano em dezembro.
Além disso, a indústria e o setor externo também trouxeram boas notícias. A venda de veículos e a produção industrial, além dos crescentes superávits na balança comercial, de US$ 7,2 bilhões no mês passado, indicam que a economia se recupera de mais de dois anos de recessão. Nesta semana, dados para o comércio e o setor de serviços devem confirmar esse cenário. A expectativa para o IBC-Br, indicador prévio do PIB, é de 0,8%.
No entanto, a longa tramitação da denúncia contra o presidente pode ser um balde de água fria nas expectativas de recuperação.
Com a demora das discussões na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), os trabalhos podem ser concluídos apenas na véspera do recesso parlamentar, que começa dia 18 de julho. Isso significa que a votação no plenário da Câmara ficaria para agosto. Se aprovada tanto pelo Congresso quanto pelo STF, o julgamento pode se alongar até março do ano que vem. Eventuais eleições indiretas, que poderiam (ou não) levar Maia à presidência, ocorreria possivelmente em abril e posse efetiva em maio, a poucos meses do início da campanha para as eleições presidenciais.
É uma transição longa e incerta demais para o tempo da economia. Enquanto o país acompanha as longas discussões no Congresso, decisões fundamentais de consumo e investimento são adiadas. Isso é uma péssima notícia para os quase 14 milhões de desempregados que são os que mais sofrem com a bagunça na política.
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