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Blog do Gesner Oliveira

Crianças, exijam presentes melhores, economia em recuperação!

Gesner Oliveira

11/10/2017 17h01

Há bons argumentos para os pequenos na legítima barganha por um presente melhor no Dia das Crianças. Afinal, a recessão acabou.

O cenário de queda dos juros e de inflação, somado à melhora no mercado de trabalho e de crédito, têm afetado positivamente o comércio. O dado do setor de agosto mostrou que as vendas no varejo cresceram 3,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado, a quinta alta seguida nessa base de comparação. Assim, não surpreende o otimismo com as vendas no Dia das Crianças deste ano. É a recuperação da economia.

Depois de uma queda acumulada de mais de 11% no biênio 2015/16, a expectativa para o Dia das Crianças deste ano é de alta de 3,4% nas vendas, o melhor resultado em quatro anos.

A data existe desde 1925, após decreto aprovado pelo então presidente Arthur Bernardes um ano antes. Passou a ser de fato assimilada pelos brasileiros apenas 30 anos depois, quando a marca Estrela, de fabricação de brinquedos, investiu em uma campanha para aumentar suas vendas. Hoje é uma data importante para o setor de comércio e dá bons sinais de como os consumidores devem se comportar no Natal.

De acordo com pesquisa elaborada pela FGV/IBRE, os brasileiros estão mais dispostos a gastar neste 12 de outubro. A média de intenção de gasto para o Dia das Crianças ficou em R$ 82,50 neste ano, contra R$ 78,60 em 2016. O indicador que mede o ímpeto de gastos avançou 5 pontos, de 59,3 para 64,3, interrompendo trajetória de queda iniciada em 2014.

Para se ter uma ideia, no ano passado a mesma pesquisa apontava que quase metade dos entrevistados pretendiam reduzir os gastos no feriado em relação ao ano de 2015, o que representou a menor intenção de compra de presentes em 11 anos. De fato, os resultados comprovaram a gravidade da crise. As vendas do Dia das Crianças caíram 3,6% em 2015 e 8,1% em 2016.

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a expectativa é de que a data neste ano movimente R$ 7,4 bilhões, uma variação de 3,4% frente ao ano passado. Os setores de lojas de vestuário e calçados, com alta de 10,2%, seguido de brinquedos e eletroeletrônicos, com alta de 5,7% devem puxar o crescimento.

Também há otimismo no e-commerce. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) estima faturamento de R$ 2,15 bilhões nas lojas virtuais, alta de 5% ante 2016.

O que mudou? O ambiente macro. Há um ano, a taxa de juros Selic estava em 14,25% ao ano contra 8,25% na atualidade, devendo fechar 2017 em 7%. A taxa média de juros das operações de crédito seguiu a mesma tendência, saindo de 33% ao ano em agosto do ano passado para 28,45% em agosto desse ano. Caíram o endividamento das famílias e a inflação. O acumulado em 12 meses do IPCA batia 8,48% há um ano, enquanto hoje está em apenas em 2,54%.

O impacto da inflação nos produtos mais demandados no Dia das Crianças explica parte do otimismo para este ano. O acumulado em 12 meses do IPCA de brinquedos, caiu de 9,62% em setembro de 2016 para 0,37% em setembro deste ano. Na mesma base de comparação, a taxa acumulada de chocolates em barra e bombons era de 23,42% e passou para deflação de 6,35%. Eletrodomésticos e equipamentos passaram de 4,43% para deflação de 2,44%; roupas infantis passaram de 4,29% para 2,61%; bicicletas de 6,01% para deflação de 0,42%; CDs e DVDs já vinham em queda de 0,86% e caíram ainda mais, para -1,18%; e assim vai.

Infelizmente nem todos poderão celebrar com tranquilidade. Há mais de 13 milhões de desempregados. O crescimento vigoroso para dar oportunidade a todos só virá quando não faltar para as crianças brasileiras aquilo que elas mais precisam e que até elas topariam trocar por um brinquedo: saúde e educação.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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