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Blog do Gesner Oliveira

Para onde vai a Bolsa em 2018?

Gesner Oliveira

29/12/2017 18h26

Depois de atingir a máxima histórica de 78.024 pontos em 2017, o índice Ibovespa fechou dezembro com alta acumulada de 26,7%. A alta acumulada no biênio 2016/17 foi de 76% e dois anos seguidos de crescimento não ocorriam desde 2010. Para 2018 a perspectiva é otimista, mas é preciso tomar cuidado com a política.

Depois do "choque JBS" no dia 18 de maio, o pessimismo tomou conta da economia. A notícia crimonosamente vazada sobre áudio envolvendo os donos da empresa e o presidente Michel Temer fizeram a bolsa despencar da casa de 68 mil pontos para 61 mil pontos, a maior queda diária desde a crise financeira de 2008. Eletrobras, Cemig, Banco do Brasil, Gerdau e Petrobras foram as empresas que mais sofreram, caindo mais de 15%.

Houve analistas falando em recessão, com a expectativa de que reformas importantes para a economia não seriam mais aprovadas. Mas a partir de meados de junho os ventos mudaram de direção. A reestruturação da base aliada do governo abriu espaço para a aprovação da reforma trabalhista, da lei da terceirização, entre outras medidas. O otimismo voltou e a bolsa chegou na sua máxima histórica em outubro, na casa dos 78 mil pontos.

Diversas empresas surfaram nessa onda de otimismo em 2017. Depois de subir 500% em 2016, a Magazine Luiza superou as expectativas e cresceu mais 510,5% no ano. A fabricante de cloro Unipar subiu 263,7% e a Usiminas cresceu 121,9%. Estácio e CVC completaram o Top 5 de 2017.

Na agenda reformista de 2017, ficou faltando a reforma da Previdência. Prestes a ser aprovada antes do "choque JBS", a principal medida de ajuste acabou colocada de lado, como aliás era o objetivo indisfarçavelmente corporativista de Rodrigo Janot.

O suspeito acordo de delação de Janot com a JBS pegou carona na justa bandeira de combate à corrupção  para colocar obstáculos à remoção de superaposentadorias para alguns em prejuízo do conjunto da população que tem que arcar com um sistema previdenciário tecnicamente quebrado.

O adiamento da reforma da Previdência impediu que a bolsa passasse dos 80, 90 mil pontos. Com o rombo fiscal que o setor público tem hoje, não tem como olhar com otimismo para o médio prazo sem uma profunda reforma, aliada a outras providências de redimensionamento da enorme máquina estatal.

2018 permite certo otimismo. Há fundamentos para supor uma recuperação mais forte da economia: inflação bem comportada, juros em patamares baixos, contas externas confortáveis e mercado de trabalho em recuperação. Depois de um ano de inflexão em 2017, com alta em torno de 1% do PIB, as projeções para 2018 indicam crescimento na casa de 3%.

O aquecimento da economia beneficiará diversos setores que ainda possuem capacidade ociosa, como a siderurgia, segmentos de autopeças e a indústria em geral. Os resultados operacionais das empresas podem melhorar sem a necessidade de muitos investimentos. A melhora na renda e consumo das famílias também deve ajudar segmentos de varejo e serviços. E juros baixos mantêm a atratividade das aplicações em renda variável.

Mas o ano político trará mais volatilidade para bolsa. O investidor atento ficará de olho em três grandes momentos: o julgamento do pré-candidato e ex-presidente Lula, no dia 24 de janeiro; a votação (ou não) da reforma da Previdência, com previsão para ir ao plenário da Câmara dos Deputados no dia 19 de fevereiro; e as eleições, com primeiro turno marcado para o dia 7 de outubro.

No fundo, o que importa para os bons resultados da economia depois de 2018 e, consequentemente, para as ações de boa parte das empresas na bolsa, é a certeza de que haverá continuidade na atual política econômica. Qualquer sinal de que o candidato favorito à Presidência tocará a agenda de reformas e o ajuste fiscal será bem recebido. Do contrário, a desconfiança do mercado deve causar queda na bolsa e alta (moderada) no dólar.

A recomendação é ter cautela. Ações que subam com a alta do dólar, caso "tudo der errado", podem servir de bom complemento às ações que vão crescer com um possível "boom" da economia. Em tempos de incerteza, é sábio manter um colchão de liquidez e seguir o velho e sábio conselho de não colocar todos os ovos em uma mesma cesta. Feliz 2018!

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira