Número de queda do emprego em dezembro não é ruim. Como assim?
Ao contrário daquilo que afirmaram alguns analistas, não há nada muito surpreendente ou trágico com a perda de postos de trabalho em dezembro. O Ministério do Trabalho divulgou hoje que o saldo líquido entre admitidos e demitidos, com empregados de carteira assinada, foi negativo em 328,5 mil em dezembro de 2017. Mas a notícia não é tão ruim quanto parece, pelo contrário.
O resultado já era esperado e veio melhor do que costuma ser em meses de dezembro. Apesar do número negativo, é mais um sinal de que o mercado de trabalho está em recuperação.
No jargão do economês (ou estatiquês), ocorre aquilo que se chama de efeito sazonal. Pense, por exemplo, nos ovos de chocolate. Passam o ano inteiro encostados na prateleira dos supermercados e no mês de abril, com o feriado da Páscoa, são um dos produtos mais vendidos. A queda das vendas nos meses seguintes não significa necessariamente que uma loja de chocolate está indo mal… É que abril existe um efeito sazonal positivo.
O mercado de trabalho também reage a efeitos sazonais. No final do ano, o que era para produzir foi produzido e o que era para colher, já foi colhido. Dezembro costuma ser o pior mês do ano em termos de contratações. Apenas o comércio se salva devido às contratações para as festas de fim de ano. Os demais setores entram em período de demissões. Em dezembro de 2017, a indústria de transformação teve saldo líquido negativo de 110 mil vagas. O setor de serviços outros 107 mil. A agropecuária de 44 mil.
Mas há efeitos sazonais positivos em outros meses. Períodos de colheita de safra agrícola significam muitas contratações na agropecuária. Março e outubro são bons meses para o emprego na indústria e serviços. Daí a importância de considerar tais efeitos na hora de analisar os dados.
Um bom jeito de entender o que significa a queda de vagas em dezembro é compará-la a de outros anos. O número de 2017 é o melhor desde 2007. Para se ter uma ideia, em 2016, a queda foi de 462 mil e em 2015 de 596 mil! Outra forma mais complicada é retirar o efeito sazonal e analisar o dado como se não houvesse o efeito negativo típico do final do ano. Feito o ajuste sazonal, o saldo líquido foi positivo em 52,2 mil em dezembro, o segundo melhor resultado desde de fevereiro de 2014, perdendo apenas para outubro de 2017 (+67,8 mil).
2017 foi o terceiro ano consecutivo com perda de vagas formais. Apesar disso, o resultado do ano passado foi o melhor em três anos, ou seja, desde 2014, quando foram criadas 420,69 mil vagas de trabalho. O resultado está relacionado com a recuperação mais acelerada no ano passado de setores como agricultura e repositor de mercadorias. Por outro lado, o grande destaque negativo foi a construção civil, com uma retração de 4,6% do estoque de empregados formais no setor.
Para 2018, a projeção é de geração líquida positiva de 980 mil vagas formais de emprego 2019 e 2020 devem manter a recuperação e criar juntos mais de 3 milhões de novas vagas, pouco mais do que o que foi destruído durante o biênio 2015/16.
É normal o mercado de trabalho demorar para reagir à recuperação da economia. O processo de recontratação por parte das empresas leva tempo, já que depende de sinais de que as coisas vão melhorar nos próximos anos. A situação continua difícil, mas o resultado de 2017 foi melhor do que parece.
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