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Blog do Gesner Oliveira

Trump desmascarou o protecionismo dos EUA

Gesner Oliveira

09/03/2018 16h25

A elevação das tarifas de importação sobre aço e alumínio terão impacto negativo sobre as economias internacional e brasileira e estão na contramão da globalização.

Há um mito de que os EUA eram os grandes defensores do livre comércio e que Donald Trump rompeu com esta tradição. Mas uma boa parcela daquilo que Trump está fazendo já foi feito pelos EUA, ainda que com menor estardalhaço e radicalidade.

A tarifa de 25% sobre a importação de aço e de 10% sobre as compras de alumínio afetam negativamente o conjunto da economia dos EUA, mas agradam o lobby da indústria siderúrgica dos EUA. A barreira encarece o preço de automóveis, eletrodomésticos e outros produtos, tendo um impacto sobre a inflação americana. A pretexto de diminuir o déficit comercial, medidas dessa natureza terminam por criar mais problemas no longo prazo. Isso porque os custos industriais aumentam, retirando competitividade da economia dos EUA.

No plano internacional, o resultado poderá ser uma escalada tarifária global. A tendência é haver sucessivas retaliações, inibindo a expansão do comércio. Os blocos comerciais continuarão em formação, com menor presença dos EUA e uma participação crescente da China.

No tocante à economia brasileira, o impacto negativo recai primordialmente sobre o setor siderúrgico. A medida não chega a comprometer a boa situação das contas externas, mas impacta negativamente em segmentos importantes da indústria. Pelos cálculos da CNI (Confederação Nacional da Indústria), as medidas vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em alumínio.

Mais preocupante são as consequências que uma possível guerra comercial poderia ter sobre a economia mundial. Este seria um aspecto que fecharia a janela de oportunidade de um ambiente externo mais favorável ao ajuste, dificultando ainda mais a recuperação da economia brasileira.

Não se descarta a possibilidade de uma reversão da medida para países selecionados, algo que de certa forma foi acenado por Donald trump. Mas nesse caso, o grau de insegurança é muito grande. Inúmeras indústrias, dentro e fora dos EUA, irão rever seus investimentos à luz desse novo quadro de instabilidade na tributação sobre o comércio exterior. Pior, muitas delas vão aguardar um quadro mais previsível para decidir suas inversões produtivas, freando o crescimento da economia mundial.

A extravagância de Donald Trump reflete uma contradição da economia internacional no século XXI. As economias estão cada vez mais globalizadas, mas não há espaços de decisão supranacionais. Pelo contrário, a economia política do populismo prega o ultra nacionalismo na contramão da globalização.

 

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira