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O que esperar de 2017

Gesner Oliveira

02/01/2017 16h15

As projeções indicam que 2017 será um ano de maior produção, menor inflação e maior desemprego.

Os economistas costumam usar a soma dos percentuais de inflação e desemprego, que recebe o nome pouco animador de "índice de miséria", para descrever a situação macroeconômica. Em 2015, este indicador foi de 19,2% (8,5% de desemprego somado a 10,7% de inflação). Em 2016 este índice ficará um pouco menor: 17,9% (11,4% de desemprego e 6,5% de inflação).

E 2017? O índice de miséria será praticamente igual, de 17,8%. Mas com uma composição diferente. A inflação cairá de 6,5% para 4,8%; e o desemprego subirá de 11,4% para 13%.

A chave para a política econômica reside em melhorar a taxa de sacrifício, isto é, em permitir que a inflação caia sem tanto sacrifício em termos de emprego. Para tanto, é essencial um bom ambiente de negócios e uma economia sem tanta indexação e rigidezes. Daí a importância da agenda reformista.

Em 2016 o Governo Temer enfrentou e venceu batalhas importantes na tentativa de recolocar o Brasil no caminho do crescimento. Encaminhou  reformas necessárias, ao promover o início do ajuste fiscal, por meio da aprovação da PEC dos gastos públicos. Enviou ao Congresso, antes do previsto, uma proposta de reforma da Previdência relativamente ousada para os padrões brasileiros.

Na mesma direção reformista, propôs uma minirreforma trabalhista; resistiu à tentação histórica de aumentar impostos e acenou com simplificação tributária; lançou no primeiro dia de governo um Programa de Parcerias de Investimento (PPI), lançando discurso favorável à mobilização do capital privado para investimento em infraestrutura.

Mais importante para o curto prazo, venceu uma batalha fundamental de reverter as expectativas inflacionárias. Pela primeira vez,  depois de sete anos, inicia-se o ano com alta probabilidade de convergência para a meta de inflação. Isso abre espaço para  um corte mais expressivo nos juros nos próximos meses.

O avanço do ajuste fiscal e a ancoragem das expectativas de inflação em torno da meta de inflação de 4,5% aa, abrem  espaço  para queda da taxa de juro Selic em 2017. Tal fato será fundamental para impulsionar a atividade econômica em 2017, que depois de dois anos seguidos de retração, deve voltar a apresentar um modesto crescimento. A GO Associados projeta leve alta do PIB de 0,8%. Mas, a expectativa é que ao longo do ano, o crescimento ganhe força, de modo que no quarto trimestre de 2017, a economia esteja crescendo a uma taxa próxima a 2%.

A correção dos preços administrados (como gasolina e tarifas de utilidades públicas) foi feita em 2015/16 e não se vislumbra grande choque de oferta como em 2017, como no caso dos alimentos, especialmente de itens como o feijão e o leite.

Mas o maior desafio desse governo será conviver com uma taxa elevada de desemprego durante todo seu mandato. A taxa de desemprego média de 2017 deve subir para 13,0%, ante taxa esperada de 11,4% para este ano. E apenas em 2020, a taxa de desemprego deve voltar à casa de um dígito. Sendo assim, o maior desafio do governo Temer, mesmo com uma recuperação da atividade esperada a partir de 2017, será o de continuar aprovando as reformas de ajuste da economia, com uma popularidade muito baixa, dado que o índice de desemprego continuará elevado até o fim do seu mandato.

Os números recentes do IBGE e Ministério do Trabalho mostram um cenário ainda preocupante e corroboram um cenário difícil para 2017 no mercado de trabalho. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostrou que a taxa de desemprego subiu 11,8% para 11,9% no trimestre encerrado em novembro, um período que sazonalmente deveria apresentar queda do desemprego. No caso do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o saldo líquido negativo ficou em 116,7 mil vagas de empregos com carteira de trabalho. Todos os setores, com exceção do comércio por motivos sazonais, apresentaram redução líquida de postos de trabalho.

O Natal foi um reflexo dessa situação e da insegurança da população com o futuro. Conforme a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), as lojas comercializaram no ano passado R$ 140,5 bilhões, resultado 3,2% menor, em termos nominais, a 2015. Na evolução histórica apresentada pela entidade, 2016 foi o primeiro ano, desde 2004, em que o setor registrou baixa de vendas em termos nominais. Os shoppings terminaram 2016 com 18,1 mil lojas a menos em relação ao total de pontos de venda de 2015.

No comércio varejista de São Paulo, as vendas caíram 6,6% de janeiro a outubro em comparação a igual período de 2015, segundo pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Só em outubro, a retração foi de 11,9%. Conforme a associação, a recuperação em 2017 depende da melhora da situação financeira das famílias, que tem relação direta com a oferta maior de trabalho e melhoria da renda.

Como já frisado, para tirar o país da UTI o governo Temer tem que avançar no ajuste fiscal. Mas, os resultados de novembro das contas do governo central divulgados pelo Tesouro Nacional (incluem Tesouro, Previdência Social e Banco Central) mostram como ainda é  grave  a situação das contas públicas.

O déficit primário em novembro foi de R$ 38,3 bilhões, o pior resultado do mês desde o início da série histórica. A crise econômica é uma das maiores responsáveis por esse desempenho negativo. Enquanto as receitas cresceram apenas 1,9% em termos reais sobre novembro de 2015, as despesas aumentaram 9,7%. No acumulado de janeiro a novembro, os números foram negativos em R$ 94,1 bilhões. O déficit em dezembro está estimado em R$ 73 bilhões.

Com isso, as contas do governo devem fechar 2016 com um déficit de R$ 167,1 bilhões, pouco abaixo da meta de R$ 170,5 bilhões.  A reforma da Previdência, que corresponde à maior fração das despesas do governo central, cerca de 40%, é o próximo grande desafio do governo se quiser avançar no ajuste de suas contas.

Não há como o Brasil voltar a crescer, de forma sustentável, gerando os empregos necessários, sem o andamento das reformas estruturais. 2017 será um ano importante na história econômica do país se alguns passos essenciais – como as mudanças na previdência e na legislação do trabalho – forem dados nesta direção.

Gesner Oliveira
Professor da EAESP-FGV e Sócio da GO Associados

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Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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