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Como combater a corrupção?

Gesner Oliveira

11/04/2017 07h55

A Lava Jato mudou muita coisa na economia e no país. Uma delas foi acelerar a aplicação da nova Lei Anticorrupção editada em 2013 na esteira das grandes manifestações daquele ano e da tendência mundial de legislações do gênero.

Corrupção pode sair caro, se a nova norma for para valer. A empresa pode ser responsabilizada por atos de corrupção praticados por funcionários e fornecedores, independentemente da comprovação de culpa; e o valor das multas chega a 20% do faturamento bruto anual.

Mas não basta conhecer a lei. É preciso colocá-la em prática e não só pelas grandes empresas. E dentro da companhia, a preocupação não se restringe apenas ao dono ou acionista, ou ao presidente e a diretoria, mas a todos os colaboradores.

É do interesse do funcionário que as regras anticorrupção estejam funcionando bem. Tome-se o exemplo da perda de milhares de postos de trabalho em função do escândalo da Lava Jato. Estima-se que a perda de emprego gerada pelo ajuste de grandes construtoras depois da Lava Jato tenha chegado a 300.000. A esmagadora maioria destas pessoas não tiveram responsabilidade nas irregularidades cometidas. Mas pagaram com seu emprego da mesma forma.

Tampouco a questão se restringe a uma empresa. O conjunto da cadeia produtiva está envolvido. Se um fornecedor subornar um fiscal ou o diretor de uma estatal, a empresa que compra serviços deste fornecedor tem sua parcela de culpa. Uma grande empresa que compra vários insumos e serviços precisa enquadrar não apenas seus colaboradores, mas toda a cadeia de fornecimento e distribuição.

Por sua vez, a pequena e média empresa que trabalha com a grande empresa precisa cumprir os quesitos da lei anticorrupção ou não será credenciada para vender seus produtos e serviços para a grande.

Além disso, empresas com práticas corruptas terão dificuldade de arrumar dinheiro emprestado. A obtenção de crédito junto ao sistema bancário e ao mercado de capitais estará crescentemente condicionada a um elevado padrão ético.

Assim, adoção de controles internos contra a corrupção vai se tornar uma questão de sobrevivência.

Mas como fazer? Não basta dizer por aí que a empresa é séria. É preciso estabelecer processos de controle e ter a capacidade de aprimorá-los permanentemente. Cinco diretrizes e ferramentas são úteis.

Primeiro, o exemplo tem que vir de cima. Nenhuma mudança de atitude pega se não houver uma genuína e total adesão por parte da alta cúpula da empresa.

Segundo, a mensagem anticorrupção deve ser entendida por todos os funcionários, sem exceção. A divulgação de um manual claro deve ser feita a todos os colaboradores, aliado a programas de treinamento contínuo.

Terceiro, deve haver um código de ética que não apenas enuncie princípios gerais, mas dê conta das questões práticas do cotidiano. Por exemplo, quais as restrições de oferecimento de brindes e presentes a funcionários públicos, que tipos de reuniões devem ser obrigatoriamente registradas, entre outras tantas regras que podem parecer tolas, mas previnem abusos.

Quarto, a implementação de um canal de denúncia anônima que permita levantar eventuais irregularidades e apurá-las com critério e efetividade. Quinto, punição severa e ágil quando constatada irregularidade.

Tais procedimentos têm maior chance funcionar em um ambiente externo caracterizado por regras objetivas de mercado e não pelo capricho do burocrata. Assim, o combate à corrupção é mais fácil quando não há tanta ingerência do Estado no funcionamento do mercado como ocorre no Brasil. Quando um funcionário tem poder absoluto e suas decisões não são motivadas e transparentes, está aberto o caminho para a corrupção.

Da mesma forma, quando as barreiras à entrada aos mercados são elevadas e há pouca concorrência e maior facilidade de acordo entre empresas, surgem cartéis e monopólios. Para manter seus privilégios, oriundos do poder de mercado, os grupos dominantes estão dispostos a práticas corruptas.

Assim, não basta apenas vontade para acabar com a corrupção no Brasil. É preciso introduzir métodos eficazes em cada uma das empresas, bem como lutar pelo respeito às regras de concorrência e contra o excesso de intervenção do estado na vida econômica.

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Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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