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Cobrar menos para quem paga à vista beneficia consumidor e estabelecimentos

Gesner Oliveira

26/05/2017 10h20

Mesmo em meio à confusão desta semana em Brasília, a Câmara dos Deputados aprovou várias medidas que afetam nosso cotidiano. Uma delas é a Medida Provisória  n° 764 de 2016 que autoriza desconto na compra de bens e serviços com pagamento à vista. Muitos podem pensar que a medida importa apenas àqueles que optarem pelo pagamento à vista, mas a alteração afeta o conjunto de estabelecimentos e  consumidores.

O Brasil tem as taxas de juros mais altas do mundo. A taxa do cartão de crédito em abril foi de 422% ao ano. Mas, incrivelmente, no modelo atual, quem paga à vista tem o mesmo tratamento de quem paga utilizando o cartão de crédito, ou seja, não há desconto pelo fato de liquidar a fatura no ato da compra. Como o tratamento é o mesmo, muitas vezes o consumidor prefere utilizar o cartão de crédito, pois não há incentivo algum para fazer o pagamento à vista.

Assim, os consumidores que não utilizam cartão pagam o mesmo preço dos que utilizam. Como o lojista paga taxa sobre a compra em cartão, teria uma margem maior na compra em dinheiro e portanto, teria incentivo a conceder desconto. A MP n° 764 permite isso. Estimula ao mesmo tempo a concorrência entre os meios de pagamento, dinheiro ou cartão. Com o novo incentivo de pagamento à vista, as taxas cobradas dos estabelecimentos podem diminuir.

Com a medida, o estabelecimento tende a receber mais pagamentos à vista e com isso não precisa esperar os preciosos dias para receber o pagamento das administradoras de cartão de crédito. Muitas vezes o pagamento chega a demorar até 45 dias, e essa espera custa dinheiro, ou, para usar a linguagem comercial, representa capital de giro.

Com o novo modelo de cobrança em prática, os estabelecimentos têm um prazo de recebimento menor e dessa forma mais dinheiro em caixa. Consequentemente, eles precisam recorrer menos a empréstimos para manter a empresa em funcionamento. Esse é um benefício para os estabelecimentos.

Mas o que isso significa para os consumidores? Menos necessidade de crédito, significa menor pagamento de juros. Tais custos financeiros, assim como qualquer outro, estão embutidos nos preços dos produtos. Ao diminuí-los, abre-se espaço para redução do preço final cobrado do consumidor.

Assim, a medida beneficia o consumidor que está com caixa e pode pagar à vista. É bom para os estabelecimentos que passam a ter mais pagamentos à vista e menos em cartões de crédito e reduzem seus custos. E beneficia os demais consumidores que podem ter um produto mais barato. Por que não se adotou esta medida  antes?

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Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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