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"O mago das mentiras": verdades e lições sobre um golpe financeiro

Gesner Oliveira

22/06/2017 15h54

No mês passado, entrou em cartaz no Brasil o filme "O Mago das Mentiras" (The Wizard of Lies), estrelado por Robert de Niro e Michelle Pfeiffer. A trama descreve a história de Bernard Madoff, um ex-consultor financeiro norte-americano que criou uma das maiores empresas de investimentos de Wall Street. Condenado a 150 anos de prisão por fraude, ele foi responsável por uma sofisticada operação, nomeada Esquema Ponzi, ou uma Pirâmide de Investimentos, que foi considerada a maior fraude financeira da história dos EUA.

A fraude de Madoff resultou em prejuízos de US$ 65 bilhões para seus clientes. Foram quase duas décadas criando aplicações falsas em fundos inexistentes, gerando uma fortuna bilionária para ele mesmo e sua família. O dinheiro tem sido recuperado gradualmente pelo Departamento de Justiça Americano, que teria resgatado quase 70% dos recursos.

Um esquema Ponzi consiste em uma sofisticada operação fraudulenta, do tipo Pirâmide, em que os investidores mais antigos recebem rendimentos consideravelmente altos (no caso de Madoff, 1% ao mês), à custa do dinheiro novo pago pelos investidores que chegarem posteriormente, em vez da receita gerada por um negócio real. O nome do esquema refere-se ao criminoso financeiro ítalo-americano Charles Ponzi.

Bernie Madoff utilizou-se do seu prestígio (foi um dos fundadores da Bolsa eletrônica Nasdaq, em Nova York) para criar um fundo de investimentos altamente exclusivo, onde não era necessário apenas dinheiro para investir. Entre os clientes que confiaram em Madoff e perderam muito dinheiro no golpe a Wunderkinder Foundation, liderada pelo cineasta Steven Spielberg, e a Fundação para a Humanidade do Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel, que foi sobrevivente do Holocausto.

Com a pressão da crise financeira de 2008, era uma questão de tempo até que esse frágil castelo de cartas desmoronasse. Quando o Banco Lehman Brothers quebrou e as Bolsas mundiais começaram a despencar, começou uma grande corrida de saques aos fundos de investimentos. Percebeu-se neste momento que Madoff nunca tinha comprado ações para seus clientes, remunerando-os com os novos depósitos.

Pasmem, a fraude passou despercebida pelos órgãos reguladores americanos. Quando o esquema foi desmascarado, já era tarde demais. Várias famílias perderam toda a poupança acumulada. O governo americano conseguiu recuperar US$ 11 bilhões e gradativamente as vítimas têm recebido os valores aplicados.

Moral da história: não se impressione com nomes famosos, ouça várias opiniões antes de investir, seja cético em relação à capacidade dos reguladores e desconfie de promessas de rendimentos muito acima do mercado. E tenha um bom filme!

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Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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