Mesmo na crise, mantenha seu nome limpo na praça
Gesner Oliveira
04/07/2017 10h17
Ninguém gosta de ter fama de mau pagador e ficar com o nome sujo na praça. Com a economia parada e o desemprego nas alturas, manter as contas em dia é ainda mais difícil. Mas é possível. Uma boa estratégia para saldar suas dívidas e um bom planejamento do consumo são fundamentais para manter o nome limpo na praça, mesmo na crise.
A alta recente dos calotes no Brasil vai na esteira do desemprego. Apesar de ter mostrado uma ligeira melhora nos últimos meses, a situação do mercado de trabalho continua dramática. São 13,3% da população apta a trabalhar que estão desocupados. Quase 14 milhões de pessoas. A falta de emprego afeta a renda das famílias, que por sua vez eleva a taxa de inadimplência – fracasso em pagar determinada quantia nos termos do contrato de crédito original.
De acordo com os dados do Serasa Experian, o país tem hoje 61 milhões de pessoas na lista de marcados para morrer dos bancos e empresas. Isso significa menos acesso a crédito e, portanto, menos consumo e investimento na economia. O resultado é o maior desde 2012 e apenas entre abril e maio deste ano, mais de 900 mil pessoas atrasaram o pagamento de contas. Em média, cada uma dessas pessoas deve um total de cerca de R$ 4.000, para quatro credores diferentes.
Aqui vão algumas dicas para evitar com que seu nome fique sujo.
Antes de tudo, é preciso saber exatamente qual é sua dívida, se é que você tem uma. Muita gente nem sabe se possui uma dívida e isso pode ocorrer em casos como mudança de endereço. As contas vão chegando e a pessoa esquece de avisar alguma loja ou a empresa de gás. O próprio site do Serasa pode ser uma ferramenta interessante, pois permite o consumidor checar se seu CPF foi negativado, isto é, se está devendo alguma quantia para alguém.
Descoberta a exata quantia da dívida, é fundamental uma boa estratégia para saldá-la. Listas com as diferentes despesas da casa são importantes para saber o que é importante e o que pode ser cortado para poupar um dinheiro. Existe uma tendência de acúmulo de todo tipo de produto, então uma lista com aquilo que pode ser vendido também ajuda. Além disso, negocie! Organize suas contas e pense nos possíveis argumentos que você pode usar com o credor. Não assuma um compromisso com o qual não possa arcar já pensando em se proteger de possíveis imprevistos que podem aparecer pelo caminho.
Há sempre alguns sinais que aparecem antes do descontrole das contas. Muitas vezes quando está endividada, a pessoa passa a usar crédito no dia a dia para se sustentar. Então vale a pena prestar atenção se você tem comprado a prazo o que costumava comprar à vista, se passou a usar cheque especial para cobrir despesas básicas ou se está pagando apenas o mínimo do cartão de crédito.
Para quem já quitou ou que não possui dívidas e quer apenas se precaver, é importante elaborar um bom planejamento de consumo. Um orçamento doméstico com as receitas e despesas é o primeiro passo. Pesquisar preços, reduzir gastos supérfluos do dia a dia e sair de casa com o dinheiro contado também são dicas úteis. Inscrever-se no chamado Cadastro Positivo, por sua vez, é uma excelente opção para que suas contas sejam registradas, gerando um histórico de bom pagador. Tal histórico passa a ser visto pelas empresas e bancos e pode auxiliar o consumidor a conseguir crédito a taxas mais razoáveis.
Estar em dia com suas contas tem efeitos em todas as dimensões da vida. É importante recuperar a reputação de bom pagador e voltar a ter crédito na praça. É claro que ajudaria muito se a conjuntura macroeconômica melhorasse, gerando novas oportunidades de emprego. Para que isso ocorra será necessário manter a economia o mais longe possível da confusão da política!
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.