Ué, o mercado de trabalho não estava melhorando?
Gesner Oliveira
27/12/2017 17h21
O Ministério do Trabalho divulgou hoje que o saldo líquido entre admitidos e demitidos, com empregados de carteira assinada, foi negativo em 12,3 mil em novembro. O leitor poderá achar que as coisas só estão piorando no mercado de trabalho, mas não é bem assim. A situação é de fato dramática, mas continua melhorando.
Qualquer notícia de destruição de postos de trabalho preocupa. Ainda mais após sete meses consecutivos com saldo líquido positivo. Além disso, o resultado de novembro veio bem abaixo das expectativas do mercado, que esperava criação de cerca de 23,8 mil vagas. Os dados positivos de outubro provavelmente deixaram os analistas otimistas demais.
Um olhar mais atento aos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que o resultado de novembro não foi tão ruim assim, perto do que o país já passou no passado. Em novembro de 2015 foram destruídas mais de 130 mil vagas. Em 2016, foram outras 116 mil. Perto disso, o resultado para o mês deste ano até parece bom!
Como alguns dados variam de forma cíclica em um período específico, faz sentido considerar essas variações na hora de analisar os dados. Os economistas chamam isso de "efeito sazonal". Comparar as vendas de brinquedos em dezembro contra o mês de março, sem considerar tal efeito, poderia levar a conclusões equivocadas. Dezembro sempre sairá ganhando por conta do Natal.
Novembro costuma ser um mês mais fraco para as contratações. Apenas o comércio se salva devido às contratações para as festas de fim de ano. Os demais setores, a indústria em particular, entram em período de demissões. Neste ano, a impressão é que o bom resultado de outubro antecipou, em parte, as contratações normalmente realizadas em novembro. Mas fazendo o devido ajuste sazonal, o saldo para o mês de novembro foi positivo, em 10,8 mil vagas. Bem abaixo, é verdade, dos 67 mil, com ajuste, de outubro.
De toda forma, o dado do Caged de novembro não altera a percepção de recuperação gradual do mercado de trabalho, e que deve ganhar mais força ao longo de 2018. No biênio 2015/16 foram destruídos 2,8 milhões de empregos formais. Neste ano o resultado ainda deve vir negativo, mas próximo de zero. Para 2018 a projeção é de geração líquida positiva de 980 mil vagas.
É normal o mercado de trabalho demorar para reagir à recuperação da economia. O processo de recontratação por parte das empresas leva tempo, já que depende de sinais de que as coisas vão melhorar nos próximos anos. Mas é sempre bom olhar os números com atenção. A situação continua muito difícil, mas o resultado de novembro foi melhor do que parece.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.