Metrô privado dá menos dor de cabeça
Gesner Oliveira
19/01/2018 23h25
O pesadelo do paulistano ontem com a greve no metrô ilustra bem a pobreza do serviço público. Sem alternativas, muita gente perdeu várias horas de seu dia no trânsito. Em contraste, a Linha-4 Amarela, operada pela iniciativa privada, serviu regularmente o público. Muita gente é contra privatização, mas o importante não é se a operação é pública ou privada. O importante é oferecer um serviço de boa qualidade.
Quem mora na Zona Leste da cidade, por exemplo, levou mais de quatro horas de casa até o trabalho. Isso significa mais da metade de uma jornada de oito horas no trânsito. Estima-se que um dia sem metrô em São Paulo custe 1,9 milhão de horas adicionais em tempo de viagem, ou um total de 216 anos!
Mas os custos não param por aí. Com mais carros, ônibus e congestionamento, estima-se que uma greve signifique mais de 1,3 milhão de litros de consumo adicionais de combustível, cerca de 2,5 mil toneladas a mais de emissão de poluentes e, em média, mais 40 acidentes! Sem falar nos custos adicionais de manutenção de vias e na perda gigantesca de bem-estar da população.
Se os grupos contrários às concessões realizadas hoje das linhas 5-Lilás e 17-Ouro do metrô queriam convencer a população que o leilão destas linhas deveria ser impedido, fizeram exatamente o contrário. Apenas a linha concedida à iniciativa privada não deixou a população na mão.
O leilão foi vencido pelo consórcio Via Mobilidade, liderado pela empresa CCR. Além dos R$ 553,8 milhões recebidos pelo governo estadual com a concessão das linhas, o contrato prevê que o vencedor terá de investir mais de R$ 88 milhões em melhorias no serviço. Outro ponto importante foram os subsídios cruzados entre as duas linhas. As receitas com a Linha 5-Lilás, que já possui trecho em operação e movimenta mais passageiros, ajudarão a financiar a Linha 17-Ouro, menos atraente.
Em menos de um ano, o governo de São Paulo arrecadou cerca de R$ 3,5 bilhões com leilões em infraestrutura. Além do metrô, foram leiloadas duas rodovias no ano passado: os lotes Rodovia do Centro-Oeste e a Rodovia dos Calçados, esta última com investimentos previstos de R$ 5 bilhões. O trecho Norte do Rodoanel Mário Covas foi concedido no início deste ano e outros cinco aeroportos estaduais passaram para o setor privado em 2017.
Quando o setor público não tem condições de oferecer um bom serviço para a população, faz todo sentido passar para o setor privado. São diversos os tipos de contrato e na maioria deles o governo ainda participa, seja como administrador ou como uma espécie de fiscal. Trata-se de uma forma de não só fechar o rombo nos cofres públicos como de estimular investimentos em serviços para a população.
Em vez de um Estado inchado que intervém em tudo, é melhor ter um Estado enxuto, menos interventor e mais regulador. Pelo menos daria mais segurança ao cidadão que madruga para chegar cedo no trabalho de que terá um serviço minimamente confiável.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.