Sem água, não há vida. Muito menos economia
Gesner Oliveira
22/03/2018 05h00
Não há vida sem água. Muito menos economia. Segundo o IBGE, o Brasil gasta em média 6 litros por cada real do produto interno bruto. reais. Uma expansão de 2,5% do PIB precisa de cerca de 1 trilhão de litros de água por ano, o equivalente a dois sistemas Cantareiras cheios.
Para que o Planeta Terra não deixe de ser Planeta Água, é necessário assegurar a manutenção do estoque deste insumo precioso. Para tanto, a retirada de água não pode superar por tempo indeterminado o volume de recursos hídricos renováveis,. isto é o que retornou à Natureza sob diversas formas, como chuva, efluentes tratados, etc.
Segundo os dados do IBGE, o Brasil está prestes a violar esta contabidade básica da água. No período 2013-15, a retirada de água tem crescido a uma taxa superior à dos volumes renováveis. A retirada cresceu 6,5% contra uma diminuição em mais de 16% dos recursos hídricos renováveis.
Se tal tendência persistir, o país estará colocando em risco sua disponibilidade de água. Mantendo estas taxas de retirada e de volume renovável, a partir de 2021 o nível de retirada superaria o recurso renovável, acarretando uma diminuição do estoque de águia disponível.
Diante da escassez hídrica, são necessárias três linhas de ação. Em primeiro lugar, retirar menos água da Natureza o que pode ser feito aumentando a eficiência dos processos produtivos. É preciso reduzir a quantidade de água por unidade de bem ou serviço.
Em segundo lugar, a própria produção e distribuição de água precisa ser mais eficiente. Atualmente o Brasil perde em média 38% da água produzida. É um número obsceno, para dizer o mínimo. Países avançados nesta área perdem algo entre 10% e 15%.
Em terceiro, é necessário proteger muito bem os mananciais existentes, o contrário do que o Brasil tem feito. É preciso proibir invasões, culturas de atividades produtivas impróprias e certamente, coibir descartes perigosos e ilegais como o que foi revelado recentemente em Barcarena no Pará por uma empresa norueguesa.
Em quarto, é urgente aumentar a reutilização da água. A água de reúso representa no Brasil menos de 1% da oferta contra mais de 50% em Israel e Cingapura.
Por fim, o avanço tecnológico permite diversificar a matriz hídrica. A dessalinização registra custos muito menores hoje comparativamente a cinco, dez anos atrás.
Com todos estes desafios ainda há razão para celebrar o Dia Mundial da Água? É claro que sim. Sobretudo para acabar com o mito da abundância da água e tomar consciência da gravidade da situação e da necessidade de políticas mais adequadas. Sem água, a discussão dobre como voltar a crescer se torna supérflua.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.