Lua de mel com novo governo será curta
Gesner Oliveira
14/11/2018 16h47
O mercado tem reagido bem à transição para o novo governo e aos nomes anunciados para a equipe do novo governo. O período de euforia que se seguiu às eleições, porém, terminou. A expectativa agora é por resultados práticos, algo difícil em um espaço de duas semanas.
É mínima a chance de avanços na reforma da previdência ainda este ano. Um aspecto positivo é a indicação de nomes técnicos associados ao ajuste da economia, como é o caso de Joaquim Levy para a presidência do BNDES. Um aspecto negativo é o excesso de cenários de rearranjos de ministérios e órgãos que desaparecem e ressurgem ao sabor das especulações.
O Ministério do Trabalho, por exemplo, já morreu e foi ressuscitado; o Meio Ambiente seria absorvido pelo da Agricultura, agora deve recuperar seu status independente; o Ensino Superior que andou pela Ciência e Tecnologia, aparentemente voltou para a Educação.
Há ainda o Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, responsável por combater cartéis e controlar fusões e aquisições no Superministério da Justiça, mas que poderia ir para o Superministério da Economia. É menos importante saber onde estará no organograma – se com o superministro Moro ou se com o superministro Guedes. Mais importante é que seja mantido como um órgão "superindependente".
Aliás, melhor também seria dar atenção a projetos que estão no Congresso, como o das agências reguladoras e assegurar que elas sejam dirigidas por quadros técnicos – de preferência recrutados por empresas especializadas e independentes, longe da prática de loteamento político-partidário e nepotismo.
Igualmente importante seria dar atenção a medidas provisórias, como a do saneamento – MP 844, que podem estimular investimentos tão necessários ao setor, mas em torno da qual não se chegou a um consenso. Havia expectativa de que a MP 844 fosse votada nesta semana, mas não se chegou a um acordo e é grande a chance de que venha a caducar.
Em situação semelhante, vários outros segmentos precisam de regras mais adequadas para receber investimentos.
O desemprego só vai ceder quando o investimento aumentar. Para que isso ocorra é preciso um governo muito prático, que aproveite o que já está encaminhado e faça logo o que é prioritário. Não há tempo a perder quando se sabe que a lua de mel será muito curta.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.