Herança de Temer na economia: maldita e bendita
Gesner Oliveira
17/12/2018 09h45
O presidente Michel Temer fecha o seu governo com apenas 5% de aprovação, o menor índice dos últimos seis presidentes.
A impopularidade do presidente não decorreu de sua política econômica, mas, sim, das denúncias de corrupção e de suas consequências políticas que acabaram repercutindo na própria economia.
Apesar de tamanha rejeição, houve avanços na política econômica. Seu governo virou o jogo em relação à inflação que estava em dois dígitos em 2015 e conseguiu reduzir a taxa de inflação para a mais baixa dos últimos vinte anos, além de obter expectativas dentro da meta para 2019 e 2020.
A taxa de juros foi reduzida para o patamar mais baixo já registrado no país. Após a pior recessão da história, em 2015/2016, a economia entrou em recuperação em 2017/2018.
O governo manteve reservas internacionais elevadas, o que permitiu enfrentar o encarecimento do dólar no mundo de maneira mais robusta em 2018 do que, por exemplo, a vizinha Argentina. O investimento direto estrangeiro supera em cerca de cinco vezes o déficit em conta corrente.
Foi aprovado o teto dos gastos públicos em um país que historicamente resiste a cortar despesas e está viciado em cobrar mais imposto quando a conta não fecha.
Para surpresa de muitos, o Brasil começou a se livrar de uma legislação das relações de trabalho de inspiração fascista e viu, pela primeira vez, uma redução significativa nas ações trabalhistas.
A nova lei das estatais colocou obstáculos ao loteamento político partidário e ao nepotismo, ao mesmo tempo em que Petrobras, Eletrobras e Caixa Econômica Federal apresentaram melhoras na governança.
Dois choques graves comprometeram o desempenho do governo Temer: as denúncias contra o presidente em 2017 e a greve dos caminhoneiros em maio de 2018.
A reforma da previdência ficou comprometida com a perda da maioria no Congresso, deixando em aberto a principal tarefa para equilibrar as contas públicas. Além disso, acabou cedendo a demandas salariais incompatíveis com o ajuste, como o aumento para os ministros do Supremo e seu efeito em casacata no Judiciário e demais Poderes.
Além da demora em agir para evitar o caos na greve dos caminhoneiros, o governo aceitou uma falsa solução para o problema: o tabelamento do frete e do diesel em clara contradição com a lógica do mercado.
Produção e emprego recuperaram muito lentamente e, embora a taxa de desemprego tenha começado a declinar, as 27 milhões de pessoas desempregadas ou subocupadas constituem enorme drama social.
O governo Temer será reconhecido no futuro como um dos mais reformistas da história. Suas fragilidades políticas impediram, contudo, que vencesse a forte resistência corporativista do país, deixando inconclusa a maior parte do dever de casa do ajuste da economia.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.