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Brumadinho, a história se repete como tragédia mesmo

Gesner Oliveira

28/01/2019 12h58

O rompimento da barragem em Brumadinho tem consequências humanas e sócio-ambientais  devastadoras, que vão muito além de seus efeitos econômicos. Estes, por sua vez, são gigantescos.

Como a Vale é uma companhia de capital aberto negociada no Brasil e no exterior, o impacto é imediato no mercado de capitais. A Justiça é lenta, mas o mercado é rápido. Minutos após a divulgação do rompimento da barragem em Brumadinho na última sexta-feira, as ADRs (recibos de ações) da empresa negociadas em Nova York, que estavam subindo, começaram a cair e fecharam com queda de 8%.

Conforme esperado, a ação caiu fortemente na abertura do pregão de hoje da B3, em São Paulo, com uma perda de valor da companhia até este momento de R$ 60 bilhões. Isso não surpreende diante dos prejuízos materiais e intangíveis de uma tragédia de tal gravidade, após uma outra da mesma natureza ocorrida há apenas três anos.

Até agora, a Vale teve cerca R$ 11 bilhões bloqueados pela Justiça, uma multa do Ibama de R$ 250 milhões e estará sujeita a toda sorte de ações nas esferas administrativa, civil e penal, incluindo ações civis públicas.

Tais prejuízos são levados em conta pelos investidores e agências de classificação de risco. A agência Standard&Poor's, por exemplo, anunciou que poderá rebaixar a nota de classificação de risco da empresa.

Em se tratando de uma das maiores empresas brasileiras, não é algo positivo para o país, especialmente em um momento que se quer virar o jogo e mudar a imagem no exterior para atrair mais investimentos.

Os dois desastres ocorridos levam a uma conclusão óbvia, manifestada, entre outro, pelo presidente Bolsonaro: há algo muito errado com a gestão de risco, tanto privada, quanto pública.

Do ponto de vista privado, nenhum sistema de gestão de risco é infalível. Mas não se espera que falhe por duas vezes, com impactos tão elevados, em tão pouco tempo. Pode haver erros no cálculo do risco, no seu gerenciamento ou na disposição da companhia em aceitar uma exposição que não é aceitável;  nem pelo acionista, nem pela sociedade.

Do ponto de vista da política pública, é evidente que há um enorme passivo ambiental da atividade mineradora que tem de ser superado mediante pelo menos três linhas de ação.

Primeiro, um maior rigor na fiscalização, principalmente no aspecto técnico e não simplesmente através de controles burocráticos dos órgãos ambientais.

Segundo, com maior celeridade para garantir tempo econômico nas decisões da Justiça, pois de nada adianta pedir uma legislação mais rigorosa, se nem a existente for implementada com um mínimo de eficácia e agilidade.

Terceiro, com padrões de segurança mais rigorosos para as barragens e, mais importante, estímulo à reutilização dos resíduos e rejeitos de minério. Novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas, no próprio estado de Minas Gerais, e não têm recebido a devida atenção.

Está na hora de demonstrar na prática o que foi dito em Davos no discurso de Bolsonaro: a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento precisam ser interdependentes e indissociáveis.

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Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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