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Reduzir os juros para crescer

Gesner Oliveira

06/03/2019 12h49

A recuperação da economia tem sido modesta. Seria ilusório pensar que a reforma da Previdência vai mudar este fato da noite para o dia. O crescimento em 2017/18 foi de um pouco mais de 1% ao ano. Nesse ritmo, seriam necessários quase 5 anos para voltar ao nível da produção do país no período pré-crise. Ocorreria apenas em 2023!

O Brasil tem pressa. Eis o desafio para o governo: para crescer é preciso aprovar a reforma, mas para aprovar a reforma é preciso crescer (pelo menos um pouco)!

Mesmo no melhor cenário, a tramitação da reforma da Previdência demandará tempo. Uma previsão otimista é de uma aprovação na Câmara dos Deputados no primeiro semestre. Mas a aprovação da reforma, por si só, não assegura crescimento.

A reforma serve para melhorar muito as finanças públicas no médio prazo, se não for 'desidratada'. Mas para um efeito em 2019, há dois caminhos: obras e juros. A reativação das obras paradas e a aceleração das parcerias em infraestrutura são essenciais para acelerar a expansão. Têm efeito direto sobre a construção e consequentemente sobre o emprego.

Em relação aos juros, há espaço para o Banco Central de Campos Neto (que já tomou posse e terá a cerimônia de transmissão de cargo na próxima terça-feira) reduzir a taxa básica de juros, a Selic. A economia está abaixo de seu produto potencial e as expectativas de inflação estão em linha com as metas de inflação para 2019, 2020 e 2021.

O Banco Central de Campos Neto pode fazer em 2019 algo análogo ao que foi feito por seu antecessor, Ilan Goldfajn, em 2016. A taxa de juros foi reduzida de 14,25% para 14% na reunião de outubro de 2016 apenas com a aprovação em primeira votação na Câmara da Proposta de Emenda Constitucional de corte dos gastos. A aprovação em segunda votação ocorreria apenas no dia 26 de outubro; e no Senado, apenas em 13 de dezembro; mas o ciclo de baixa dos juros começou antes.

Isso foi possível porque, como agora, uma situação de desaquecimento e redução das expectativas de inflação. E, algo que ainda não existe, mas pode ocorrer em breve: o aumento da probabilidade de aprovação da reforma da Previdência. Suponha, por exemplo, que a nova Previdência seja aprovada em primeira votação na Câmara, em junho. O Comitê de Política Monetária (Copom) poderia reduzir a Selic dos atuais 6,5% para 6% na reunião de 30/31 de julho.

É o que dá para fazer: mais infraestrutura e menos juros. Isso seria fundamental para garantir um bom ano de 2019, que começa agora, logo depois da apuração dos resultados da Sapucaí.

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Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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