Dia de Temer não será como Dia de Joesley
Gesner Oliveira
21/03/2019 22h22
As prisões deliberadamente espetaculares do ex-presidente Temer e do ex-ministro Moreira Franco derrubaram a Bolsa e deixaram o mercado apreensivo em relação a possíveis efeitos negativos sobre a tramitação da reforma da previdência.
Apesar do receio geral e da lembrança do chamado "Joeslay Day", quando foi divulgada a conversa entre Temer e Joesley Batista na noite de 17 de maio, a bomba desta última quinta-feira não deve abrir crise tão grave quanto a de 2017.
A intensidade da queda do Ibovespa foi menor: a bolsa fechou com uma diminuição de 1,3% depois da prisão de Temer contra uma redução de mais de 8% com o episódio Joesley.
Faz toda a diferença a prisão de um presidente em exercício e de um ex-presidente. As denúncias do ex- procurador geral da República, Rodrigo Janot, não ajudaram o combate à corrupção, mas foram bem eficazes para impedir a reforma.
Em 2017, o episódio Joesley permitiu a formulação de duas denúncias contra o presidente que praticamente imobilizaram o Executivo. Todo o cacife político do governo Temer foi usado para impedir um impeachment em detrimento do esforço para aprovar a reforma.
A situação é diferente em 2019. O atual governo pode ignorar o fato ou atribuí-lo a um acerto de contas com a "velha política". Haverá ruído e mal-estar no Congresso, mas não o suficiente para inviabilizar a aprovação da reforma.
É provável que depois de dois pregões de queda, a Bolsa estacione um pouco entre 96.000/97.000 para retomar em seguida, rumo aos 100.000. O dia de Joesley atrasou o ajuste da economia por dois anos. O de Temer, por duas horas, até o Ibovespa começar a recuperar.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.