Governo não pode abusar da economia
Gesner Oliveira
25/03/2019 09h52
* Erramos: este conteúdo foi alterado
A política vai mal, mas a economia ainda vai relativamente bem. Em uma semana de prisão do ex-presidente Temer, bate-boca nas redes sociais entre o entorno do presidente Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia e queda da aprovação do governo nas pesquisas, dois fatos da economia devem ter passado despercebidos para muita gente.
O primeiro foi o leilão de três terminais portuários na Paraíba e um no Espírito Santo. Mesmo com a bagunça na política, o leilão arrecadou R$ 219 milhões, 15% acima das expectativas oficiais, que giravam em torno de R$ 190 milhões.
Apesar das incertezas do curto prazo, tem gente apostando no Brasil no médio prazo. Nesta semana, chama atenção o leilão da Ferrovia Norte-Sul que envolve um valor de outorga mínima de R$ 1,35 bilhão e um investimento previsto de R$ 2,7 bilhões.
O segundo foi a colocação de títulos que o Tesouro Nacional conseguiu fazer no exterior. Captou US$ 1,5 bilhão em papéis de 10 anos com prêmio baixo (2%) relativamente aos títulos do Tesouro americano. Isso mostra disposição de investidores em comprar a narrativa de um Estado que está mal das pernas financeiramente, mas que tem um plano de ajuste que até agora faz sentido.
Resta saber até quando a economia vai aguentar desaforo da política. Em contraste com 2015, não se trata de uma crise estrutural a exigir mudanças institucionais. Os problemas enfrentados na última semana podem ser vistos como temporários.
Mas não há tempo a perder. Se não houver um foco muito claro na economia, uma sucessão de crises temporárias pode queimar em pouco tempo o capital político do governo, fechando a janela de oportunidade para reformas.
Daí a necessiadade de priorizar a economia, organizar a base aliada e ter um foco claro na aprovação da reforma da Previdência. De preferência, tudo isso ainda no primeiro semestre.
* Errata: o texto foi atualizado
01/04/2019 às 12h31
Uma versão anterior deste texto informava que o leilão arrecadou 20% acima das expectativas oficiais. Na verdade, foi 15%. A informação foi corrigida.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.