Efeito Bolsonaro evaporou, mas dólar não vai explodir
Gesner Oliveira
20/05/2019 10h52
O aumento do dólar tem limite, respondendo à pergunta de muitos depois de a moeda norte-americana ultrapassar a barreira dos R$ 4 na última semana.
A euforia com a eleição de Bolsonaro e a perspectiva de reforma da economia levou a Bolsa a encostar nos 100 mil pontos e o dólar ficar na faixa dos R$ 3,6. Mas o mercado caiu na Real e o Real caiu.
Constatou-se que aprovar propostas complexas no Congressso é uma tarefa árdua, especialmente na ausência de uma base política articulada. Para complicar, o tempo fechou no cenário externo com o acirramento do conflito comercial entre China e EUA, encarecedendo o dólar relativamente a uma ampla cesta de moedas.
Mas a depreciação do Real foi maior, comparativamente a outros países emergentes. Isso reflete a percepção de que o governo Bolsonaro queimou rapidamente o capital político obtido pela vitória na eleição de 2018, dificultando a tarefa de liderar o ajuste da economia.
Apesar disso, o dólar não vai explodir como não explodiu em 2018 com um grau de incerteza bem maior. A razão principal é que, em contraste com grande parte da história do Brasil, a situação das contas externas é folgada e o Banco Central tem cacife para amortecer pressões contra o Real.
Além disso, apesar de todos os tropeços políticos, a reforma da previdência entrou definitivamente na agenda e continua elevada a probabilidade de sua aprovação parcial.
Não é por acaso que a Pesquisa Focus do Banco Central continua a projetar um dólar abaixo de R$ 4 para o final do ano. A projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2019 subiu de R$ 3,75 de R$ 3,80.
Sobre o autor
Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).
Sobre o blog
Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.