Hora de acelerar a redução dos juros
A primeira reunião do Copom de 2017 ocorre hoje e amanhã. Depois de reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual nas duas últimas reuniões de 2016, a decisão é importante para sinalizar uma aceleração no corte de juros.
Por mais longínqua que pareça, a decisão do Copom afeta seu cotidiano. Menos inflação significa maior poder de compra para as famílias e empresas, maior capacidade de previsibilidade dos preços, e um ambiente mais favorável para se planejar para o futuro. Além disso, o Banco Central poderá reduzir a taxa de juros e ajudar na recuperação da economia no curto prazo. Juros menores significam menor custo para as famílias e empresas tomarem novos empréstimos ou conseguirem renegociar com taxas mais baixas de dívidas antigas. Juros menores estimulam as empresas a fazerem novos investimentos produtivos, e as famílias a adquirirem bens de consumo duráveis.
Uma coisa é saber o que o Banco Central vai fazer. Outra é o que seria recomendável que a autoridade monetária fizesse. A opção provável é de um corte de 0,50 p.p., levando a taxa Selic para 13,25% ao ano, patamar de abril de 2015. Mas o Banco Central deveria reduzir mais rápido: algo como uma redução de 0,75 p.p. já nesta reunião.
Vários fatores justificam esta aceleração na redução dos juros: a inflação desacelerou e as expectativas estão convergindo para a meta de 4,5% a.a.
Amanhã o IBGE divulgará o resultado final do IPCA de 2016. O mercado espera que o índice oficial de inflação suba cerca de 0,35% em dezembro e assim, encerre 2016 com alta de 6,35%, abaixo do teto da meta, de 6,5%.
A atividade econômica, por sua vez, segue muito fraca. Há elevada ociosidade tanto na capacidade instalada das empresas, e elevado desemprego. O crescimento da produção industrial de apenas 0,2% em novembro, frustrou o mercado, que esperava uma alta maior. E no geral, os indicadores de atividade e emprego têm mostrado sido pouco animadores.
Um outro ponto a favor de uma maior redução da taxa Selic é o comportamento dos mercados. O dólar tem estado nos últimos dias perto de R$ 3,20. Próximo da taxa de R$ 3,17, registrada no dia anterior à eleição de Donald Trump nos EUA. Depois de um período turbulento inicial, os mercados acalmaram; e com a perspectiva de um crescimento econômico maior nos EUA nos próximos anos, os preços das commodities voltaram a subir, o que ajuda a explicar esta recente queda do dólar. Outro fator positivo que ajuda a conter a alta da inflação aqui dentro.
Por fim, e ainda que se quisesse mais, u dever de casa ainda por fazer. A PEC do teto de gastos foi aprovada no fim do ano passado e a reforma da previdência já foi encaminhada para o Congresso. Ambos acontecimentos ajudam a reduzir o temor sobre a sustentabilidade da dívida pública.
Uma atividade econômica ainda fraca; Inflação em desaceleração e com expectativas ancoradas; ajuste fiscal avançando no Congresso; nenhum grande choque nos mercados, em especial na taxa de câmbio, depois da eleição de Donald Trump geraram um cenário favorável para o Copom acelerar o corte da taxa Selic em pelo menos 0,50 ponto percentual, embora haja mais espaço para uma redução de 0,75 p.p.
A condução da política monetária exige enorme sensibilidade e talento. Ás vezes até maior do que na mais requintada gastronomia. A ver se o Banco Central não perde o ponto do açúcar.
Gesner Oliveira
Professor da EAESP-FGV e Sócio da GO Associados
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