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Blog do Gesner Oliveira

Como o mini-boom nas commodities afeta seu bolso

Gesner Oliveira

06/03/2017 13h23

O superávit da balança comercial (exportações menos importações) em fevereiro chegou a US$ 4,5 bilhões, recorde histórico para o mês. O resultado positivo deste início do ano foi fruto principalmente da elevação dos preços das commodities.

Em 2015-16, o saldo positivo da balança comercial era mero resultado da recessão: com a queda da economia, as importações caíram. Agora as compras externas voltaram a subir com a recuperação, mas o saldo continua positivo graças ao crescimento das exportações.

A balança comercial brasileira acumula saldo positivo de US$ 7,3 bilhões nos dois primeiros meses do ano. Tal valor é 83,7% superior ao registrado no mesmo período de 2016.

No primeiro bimestre, as exportações cresceram 23,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Tal melhora decorreu da forte alta das exportações de produtos básicos, que aumentaram 41,6% no período e foram responsáveis por 71,8% do crescimento total das exportações. Dentre os chamados produtos básicos, destacam-se o petróleo em bruto (+182,5%), minério de ferro (+124,5%), soja em grão (+99,9%), carne suína (+49,6%) e carne de frango (+28,8%). Outros dois componentes das exportações, os bens semimanufaturados e os manufaturados, cresceram relativamente menos: 16,1% e 8% respectivamente.

As importações também apresentaram recuperação e subiram 9,2% na comparação com o primeiro bimestre de 2016. Vale destacar o crescimento de 19,5% de compras de matérias-primas e bens intermediários importados, utilizados pelo setor industrial. A pequena alta de 2,1% da importação de bens de consumo duráveis também é sinal positivo nesse sentido. Por outro lado, a forte queda de 28,5% da importação de bens de capital sinaliza que o investimento ainda patina nesse primeiro trimestre.

As exportações vêm crescendo em função da melhora dos termos de troca, isto é, da razão entre os preços dos itens exportados pelo Brasil e dos preços dos importados. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em janeiro houve alta de 40,7% no índice geral de preços de commodities em comparação com o mesmo mês do ano passado.

O principal motivo para esta alta recente é a perspectiva de um maior crescimento econômico mundial. O presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu um agressivo plano de gastos em infraestrutura, além de corte de impostos para as empresas. Os dados para a indústria chinesa têm surpreendido positivamente e há ainda o acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que prometeu limitar a produção de petróleo. Essa perspectiva de aumento global da demanda por matérias-primas tem impulsionado o preço desses produtos.

O boom nas commodities, entretanto é menos intenso do que aquele que ocorreu na década passada. A alta recente dos preços se dá em cima de uma base de comparação muito baixa. O índice do FMI apontou, no início de 2016, o seu menor valor desde o começo de 2004. Apesar da alta, os preços ainda estão relativamente baixos, cerca de 46,7% dos valores registrados no início de 2008, auge do ciclo de commodities. O minério de ferro, por exemplo, que já subiu cerca de 100% desde o início do ano passado, mas ainda está em torno de 56,8% mais barato que maior preço já registrado pelo metal. O crescimento da China, por sua vez, também já não é mais o mesmo. A projeção de crescimento do governo é de 6,5%, inferior ao crescimento de 6,7% de 2016 e bem abaixo do crescimento de dois dígitos, de 12% até 14%, observado na década passada.

Há ainda, nos Estados Unidos, perspectiva de alta dos juros agora em março, conforme anunciado na última sexta-feira pela presidente do Banco Central dos EUA, o FED, outro fator que tende a inibir o crescimento das commodities.

De qualquer maneira, o mini-boom das commodities é positivo.  Diante dos resultados, agora a expectativa para este ano é de saldo comercial recorde, de US$ 50,8 bilhões. O valor das exportações deve subir 15,1% no ano, interrompendo a sequência negativa de cinco anos consecutivos de queda. As importações, por sua vez, devem subir 18% devido à melhora esperada para a atividade econômica e voltar a crescer depois de três anos seguidos de retração.

Com isso, o setor externo ajuda a recuperação. Os problemas estruturais da economia persistem, mas o mini-boom das commodities constitui um refresco para ajudar o ajuste depois da maior recessão da história brasileira.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

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