O que as eleições na França têm a ver com os brasileiros?
A França hoje pode ser o Brasil amanhã. Ainda que em contexto muito diferente, as eleições legislativas francesas guardam semelhanças com desafios do Brasil atual.
A eleição de Macron seria impensável há um ano. Quando ocorreu, a maioria dos analistas previu que ele não faria a maioria no Congresso. Nova surpresa. O partido centrista La République en Marché! (LRM), do presidente Emmanuel Macron, conquistou cerca de 359 cadeiras do total de 577 da Assembleia Nacional francesa. Grandes partidos como o dos republicanos e dos socialistas perderam espaço e agora Macron terá amplo espaço para implementar sua agenda de reformas.
Dois pontos chamam atenção para pensar o caso brasileiro. Primeiro, assim como ocorre no Brasil, há na França uma crise do sistema partidário convencional. Se antes os dois principais partidos dominavam quase 90% do Legislativo, agora detêm apenas 31%. O movimento centrista que praticamente não existia há 15 meses tomou o poder e transformou empresários, professores e fazendeiros em novos deputados.
A desilusão com quem está no poder aqui no Brasil não é diferente. Pesquisa de maio do Datafolha mostra que 44% da população acha que o nível de corrupção continuará o mesmo após a operação Lava Jato. Cerca de 60% vêm os políticos como os principais beneficiados dos esquemas de corrupção. Tanto lá como aqui, há uma descrença em relação à representação política.
O segundo ponto tem a ver com as reformas. Ainda que em graus distintos de urgência, tanto na França quanto no Brasil ganham importância medidas de redimensionamento do Estado e de implementação de uma agenda de reformas. Em ambos os países cresce a ideia de que o setor público precisa intervir menos na economia e na vida das pessoas.
Macron prometeu que em breve apresentará propostas para uma reforma no mercado de trabalho, visando torná-lo mais moderno e flexível. Vale notar que o desemprego por lá também atinge dois dígitos e hoje está em 10%.
Além das semelhanças, o resultado das eleições francesas traz boas notícias para o Brasil, tanto do lado da economia real, ou seja, do bolso do brasileiro, quanto do ponto de vista ideológico.
Do ponto de vista econômico, a vitória de Macron traz maior estabilidade aos mercados internacionais. Sua agenda pró-Europa e de maior integração mundial fortalece a União Europeia (UE), que tinha riscos de se desfazer com eventual vitória de Marine Le Pen, candidata da extrema-direita. Tal cenário traria muitas incertezas no mercado internacional, o que faria muitos investidores fugirem de mercados mais arriscados como o Brasil. Em outras palavras, o dólar não dispara por aqui, impactando menos na inflação e deixando espaço para a queda da taxa de juros. Isso permite voltar a crescer com menos inflação.
Além disso, o discurso em prol da globalização é positivo para o setor externo brasileiro. A estabilidade da UE, bem como a manutenção da disposição dos europeus em comercializarem com outros países, é fundamental para as exportações e importações do Mercosul (bloco comercial que inclui Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). As negociações do bloco com a UE, que se arrastam há mais de 20 anos, voltaram a ser prioridade e a expectativa é que um acordo comercial seja concluído no início do próximo ano.
Por fim, o novo contexto político francês pode ser comemorado sob uma perspectiva ideológica. A França sempre foi o berço de grandes ideias, como o iluminismo no século XVIII, e naturalmente suas políticas econômicas e sociais continuam influentes no mundo.
A corrente política que surge com Macron não vai produzir milagre, nem na França nem aqui. Mas em um mundo carente de lideranças pode inspirar uma nova agenda de política pública para o Brasil.
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