Pode levar até 2024 para indústria voltar a ser o que era
Recessão é passado, a recuperação está em curso. Em julho, a produção industrial cresceu 0,8% contra o mês de junho, acima das expectativas do mercado. A cada dado divulgado, reforçam-se os sinais de retomada da indústria. Acontece que o setor ainda sofre sequelas da crise e só deve recuperar os níveis de produção pré-crise daqui a sete anos. Isso porque entre 2014 e 2016 foram três duras quedas, um tricampeonato de recessão!
Em julho, todas as grandes categorias econômicas apresentaram alta, com destaque para a produção de bens de consumo duráveis (+2,7%) e bens de capital (+1,9%). Ambas categorias foram as que mais sofreram no período 2014/16, com queda acumulada de 36,8% e 39,8%, respectivamente. Dentre os 24 ramos industriais, 14 apresentaram alta no mês. Destaque para a produção de móveis (+6,0%), equipamentos de informática (+5,9%) e produtos farmacêuticos (+4,8%).
Já são dois trimestres consecutivos de alta contra o trimestre anterior, o que não acontecia desde o segundo trimestre de 2013. Três altas seguidas não ocorrem desde o segundo trimestre de 2010 e devem acontecer com o fechamento do terceiro trimestre deste ano, com alta acima de 1%. Agora, a projeção para a produção industrial de 2017é de alta de 2,1%.
Acontece que mesmo supondo crescimento anual de 2,4% a partir do ano que vem, que foi a média de crescimento dos dez anos anteriores à crise, a indústria só recupera seu nível de produção pré-crise em 2024. O baque da recessão foi grande e deixou enormes sequelas.
Enquanto o país sediava a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016, a indústria nacional descia ladeira a baixo. A queda acumulada no período foi de mais de 16% e liderada pelas categorias de bens de capital e de consumo duráveis. Ao contrário de bens como roupa ou alimentos, que respondem mais à capacidade de consumo das famílias e mercado de trabalho, ambas dependem de investimento. E este já não sabe o que é crescer faz tempo.
Em época de crise e sobretudo com grandes incertezas no cenário político ninguém quer investir. Hoje a taxa de investimento está em 15,5% do PIB, ante 21,1% no final de 2013. No segundo trimestre deste ano, a taxa sofreu nova queda na margem, de 0,7%. É a décima quarta queda nos últimos 15 trimestres! Com recuo previsto de 3,5% em 2017, os investimentos se tornarão tetracampeões em recessão.
A indústria é um dos setores que mais sofre quando não há investimentos. E esta situação ainda deve se prolongar por mais uns anos. Hoje ainda há elevada incerteza acerca da evolução das reformas econômicas e das eleições de 2018. Não se sabe bem que rumo o país pode tomar, então menos gente se atreve a arriscar algum investimento. Além disso, o nível de ociosidade nas empresas é muito alto, ultrapassando mais de 50% em alguns setores. Com um monte de máquinas paradas, vai levar certo tempo até as empresas passarem a comprar novas.
Daí a importância de reduzir o chamado Custo Brasil com um conjunto de reformas econômicas. O país e em particular a indústria, sofrem com inúmeras dificuldades estruturais que vão desde burocracias e elevada carga tributária, até altos custos trabalhistas e previdenciários, insegurança jurídica e corrupção. Reformas como a trabalhista, já aprovada, a tributária e a da Previdência são fundamentais para destravar os investimentos.
Não existe mágica na economia. Com a indústria crescendo 2,4% a partir do ano que vem vai levar cerca de sete anos para voltar aos níveis pré-crise. Mas esse crescimento ainda requer a aprovação das reformas e de um conjunto permanente de mudanças que visem modernizar o país. Sem nada disso, só resta se preparar para a estagnação e aprofundamento da desindustrialização.
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