Riscos externos e internos para a recuperação da economia
Acabou o otimismo com a recuperação da economia em 2017. O caminho da retomada do crescimento está repleto de armadilhas, tanto no mundo da era Trump, quanto na política doméstica.
No cenário externo, o mercado fez uma leitura pragmática da Era Trump. Ideologias à parte, o dinheiro vai ficar mais caro nos EUA. Isso porque Trump deve aumentar os gastos públicos, reduzir impostos e em 2018 indicar um novo presidente do Banco Central dos EUA, o FED, com uma propensão a elevar os juros.
Juro mais alto nos EUA funciona como um aspirador de dólares no mercado internacional, levando os investidores a procurar aplicações em dólar nos EUA. Nesse contexto, países emergentes, como o Brasil, têm menos espaço para reduzir os juros em seus mercados internos. Má notícia para o Brasil que precisa reduzir o custo do dinheiro para estimular a recuperação da economia.
No cenário interno, importa saber qual a capacidade do Governo Temer fazer o ajuste fiscal. Nesse sentido, três questões recentes geram preocupações. A primeira é o avanço das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, agora tendo como alvo os ex-governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral e Anthony Garotinho.
É impossível prever os desdobramentos das investigações e seu impacto sobre a base aliada do governo. A única certeza é a de que a Lava Jato, por mais louvável e necessária que seja, continuará a ser uma fonte de ruído político (e consequentemente, econômico) no curto prazo.
A segunda, menos espetacular, foi a renúncia do ministro da Cultura, Marcelo Calero seguida de denúncia de que teria sofrido pressão do ministro Geddel, da Secretaria do Governo para adotar decisão de interesse particular do secretário do governo em processo do Iphan. Embora o governo tenha resolvido rapidamente a questão com o anúncio do novo ministro Roberto Freire (PPS-SP), o episódio continua a gerar desgaste.
Por fim, e mais importante, existem as sabidas dificuldades, cada vez maiores, dos Estados no campo fiscal. O problema do ponto de vista econômico é crônico e a novidade foi a eclosão de grave crise no Rio de Janeiro e também no Rio Grande do Sul.
Ambos os casos sintetizam, com contornos dramáticos, o problema fiscal no Brasil. Trata-se de uma situação de total falta de planejamento na qual a evolução dos gastos não guardou qualquer relação com uma projeção realista de receita a médio prazo. É urgente formular um plano de curto, médio e longo prazos que busque estabilizar a situação fiscal dos governos estaduais. Tal estratégia teria de incluir privatização, securitização de receita futura e aprimoramento da máquina arrecadadora. Há iniciativas pontuais positivas e um discurso correto, mas ainda genérico, nessa direção.
Apesar de tantos obstáculos e incerteza, continua razoável supor uma modesta recuperação em 2017. Mas não há margem para hesitação na implementação das medidas de ajuste da economia.
Gesner Oliveira
Professor da EAESP-FGV e Sócio da GO Associados
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