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Blog do Gesner Oliveira

Quando dever no cartão? Nunca!

Gesner Oliveira

03/04/2017 17h27

Não se iluda com um juro menor no cartão crédito. A nova regra de limite do rotativo, que entrou em vigor hoje, serve apenas para evitar o calote certo. O juro do crédito parcelado continua nas nuvens. O planejamento das finanças pessoais pode lhe ajudar a evitar a dívida no cartão e a encontrar alternativas mais baratas de financiamento.

Antes da medida do Conselho Monetário Nacional (CMN), muitas pessoas estavam pagando apenas o mínimo da conta do cartão e rolando o restante da dívida a juros estratosféricos: 481,5% ao ano conforme dado de fevereiro! É claro que uma situação desse tipo é insustentável.

Apenas para dar um exemplo: alguém que comprasse uma TV de 48 polegadas das Casas Bahia por R$ 2.660,00, pagaria mensalmente apenas o valor mínimo, de R$ 399,00; estaria, ao final de um ano, com um custo da dívida (a soma de quanto já pagou e o que ainda teria que pagar) de R$ 7.931,29. Isto é, já teria pago quase duas TVs (1,9) e ainda teria uma dívida de 1,1 TV. Em apenas um ano seriam três TVs pelo preço de uma!

Com a nova regra, desestimula-se tal absurdo. Depois de 30 dias, aquilo que não foi coberto pelo pagamento mínimo é parcelado a um juro menor. Ou seja, no primeiro mês nada mudaria, mas a partir daí o consumidor poderá optar por uma linha parcelada a ser oferecida pelo banco. Mas é importante o consumidor ter em mente que esse juro menor ainda é altíssimo. A expectativa agora é que, ao invés da taxa mensal de quase 16% ao mês de antes, os bancos passem a cobrar algo da ordem de 9% ao mês, ou 181% ao ano. O que pode ser igualmente impagável.

Na compra da mesma TV do exemplo anterior, com as mudanças nas regras e um parcelamento em 24 vezes, o custo da dívida ao final de um ano passa a ser de R$ 5520,06. Isto é, em 12 meses quem queria comprar uma TV já teria pago 1,28 TVs e ainda teria uma dívida de 0,8 TVs. São duas TVs pelo preço de uma!

Moral da história, compre seu televisor à vista, sem juros e ainda barganhe com o comerciante para obter um desconto. Lembre-se que as vendas no varejo andam mal e hoje o mercado é de comprador. Por isso pesquise muito antes de comprar!

Esse parece ser um conselho lógico, mas e para quem já está endividado? É urgente renegociar as dívidas com o gerente de seu banco. Lembre-se que também é do interesse do banco resolver o problema da inadimplência.

Nunca é bom dever no cartão de crédito. Para fazer caber todas as despesas em um orçamento apertado e evitar a dívida no cartão é preciso planejamento. É fundamental colocar no papel exatamente qual é seu limite de orçamento e quantas despesas cabem efetivamente dentro dele. Planejar suas finanças pessoais pode dar trabalho, mas evita muita dor de cabeça.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira