IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Histórico

Categorias

Blog do Gesner Oliveira

Até quando a economia vai aguentar desaforo da política?

Gesner Oliveira

26/06/2017 17h57

A crise política, que pode ganhar novos capítulos nesta semana com a apresentação da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, tem tido efeito limitado sobre a economia.

Três cenários poderiam arrebentar a economia e o emprego. Primeiro, uma paralisia total das reformas. Segundo, uma guinada populista do atual governo. Terceiro, a indicação de que tal guinada pudesse ocorrer com o governo que deverá assumir em 2019.

O primeiro cenário ainda parece improvável, apesar da baixa popularidade do Governo Temer acentuada pela campanha de grupos poderosos da mídia e do corporativismo. O segundo está fora do roteiro do Governo Temer que encontrou na agenda reformista sua razão de existir.

O terceiro cenário tem uma probabilidade difícil de estimar por enquanto. O Datafolha acaba de indicar Lula como favorito nas pesquisas, mas ninguém se arrisca neste momento a dizer que será e quem poderá ser candidato em 2018. E menos ainda projetar quais serão as plataformas de campanha para 2018.

Mesmo quando a crise política atingiu seu ápice em meados de maio, após a divulgação do áudio do diálogo do presidente Temer com o empresário Joesley Batista, a repercussão negativa sobre a economia teve curta duração. A vida econômica parece blindada em relação à política.

Em contraste com o período do impeachment de Dilma, o emprego está dando sinais de melhora e o poder de compra do salário parou de cair com a forte desaceleração da inflação. Os preços nos supermercados estão menos salgados. É pouco, mas faz diferença para a maioria das famílias.

Hoje a projeção do mercado para o crescimento do PIB neste ano está em 0,39%. É muito pouco perto do potencial da economia brasileira, mas parece razoável para um país que caiu 3,8% em 2015 e 3,6% no ano passado. A expectativa para 2018 é de uma alta em torno de 2%. Um novo período de grande incerteza pode comprometer esta frágil recuperação.

Depois da explosão do desemprego no período de 2015/16, quando o exército de desempregados saltou de 6,5 milhões para 14 milhões, os dados do Ministério do Trabalho começam a sinalizar uma melhora. Em maio foram criadas 34,2 mil vagas de emprego com carteira assinada, segundo mês consecutivo com saldo positivo. A expectativa é que os dados que saem na próxima sexta mostrem uma queda da taxa de desemprego de 13,6% para 13,5%. Ainda é muito alta, mas ao menos parou de crescer.

Quando o time está na zona da degola, surge todo tipo de corneteiro e a solução mais fácil é trocar o técnico. Raramente resolve. A prioridade neste momento deve ser a de proteger a modesta recuperação do emprego e da economia.

Sobre o autor

Gesner Oliveira é ex-presidente da Sabesp (2006-10), ex-presidente do Cade (1996-2000) e ex-secretário de Acompanhamento Econômico no Ministério da Fazenda (1995) e ex-subsecretário de Política Econômica (1993-95). É doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), sócio da GO Associados, professor de economia da FGV-SP e coordenador do grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais da FGV. Foi eleito o economista do ano de 2016 pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB).

Sobre o blog

Você entende o que está acontecendo agora na economia? E o impacto que a macroeconomia tem sobre sua vida? Quando o emprego voltará a crescer? Como a economia impacta sobre o meio ambiente? Vale a pena abrir uma franquia? Investir em ações da Petrobras? Este blog se propõe a responder a questões desse tipo de maneira didática, sem economês.

Gesner Oliveira