Inflação quase civilizada, desemprego selvagem
Deflação não é uma palavra comum no vocabulário do brasileiro. A história do país foi marcada por várias décadas de inflação crônica que culminou com a hiperinflação em 1989/90. Em 1993, às vésperas do Plano Real, os preços aumentaram 2.500%, aproximadamente. E mais recentemente o dragão inflacionário lembrou que poderia ressuscitar: a inflação terminou 2015 com 10,6% e fechou 2016 em 6,29%. A vitória da política econômica foi trazer a inflação para 3,5% em 2017.
Daí a atenção para a deflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) captada em junho. A inflação oficial apresentou queda de 0,23% neste mês. Este é o resultado mais baixo para um mês de junho desde o início do Plano Real e o primeiro dado mensal negativo para qualquer mês desde junho de 2006, quando apresentou queda de 0,21%.
Há algumas razões para esta queda rápida da inflação. A primeira é a safra recorde. Com o aumento da oferta de alimentos, os preços caem. A segunda é preço baixo do dólar que segura o preço dos importados. A terceira foi a recuperação da capacidade do Banco Central de coordenar expectativas e transmitir que a meta de inflação é para valer. Isso havia sido perdido no Governo Dilma. A atual equipe econômica trabalhou para trazer a inflação de volta para a meta e tem tido sucesso. A quarta tem a ver com a redução das contas de energia elétrica depois da entrada em vigor da bandeira verde, que possibilita energia a um preço mais barato.
Por último, a brutal recessão. A economia do país encolheu nos últimos dois anos 7,2%. Na história recente do país não houve crise desse tamanho. O salário médio do brasileiro recuou 3,2% em 2015. E o desemprego chegou a 13,3%, atingindo 13,8 milhões de brasileiros. Assim como a mão de obra, mais de um quarto do parque industrial está ocioso; este percentual chega a 50% em alguns segmentos como o de cimento.
Em 2017 a economia está recuperando, mas ainda de forma muito modesta. Há espaço para o Comitê de Política Monetária (o chamado Copom) reduzir mais os juros na próxima reunião no final do mês de julho. Com juros menores, os consumidores e empresas passam a pegar mais crédito, o que pode ajudar na recuperação e expansão da economia. Reduzir a inflação em 2017 foi importante. Mas é preciso não se iludir. Se a economia retomar (como é desejável) e os preços de alimentos, petróleo e energia voltarem a incomodar (como é possível, no futuro), ninguém garante uma inflação comportada. Ainda há muito dever de casa em termos de ajuste da economia para celebrar a inflação civilizada.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.